Foi realizada, nos dias 8 e 9 de dezembro, a oficina “Imigrantes e refugiados: desafios da Casa Comum”. O objetivo foi sensibilizar igrejas e organizações de diferentes tradições religiosas para a situação dos imigrantes e refugiados. Além disso, visou fortalecer a rede de acolhida, criando espaços de diálogo com os imigrantes e, ainda, fortalecer a ação de incidência pública com o objetivo de denunciar a violação de direitos.
O evento contou com uma abordagem bíblico-teológica realizada pela doutoranda em Teologia Maryuri Mora. Na oficina “O Haiti é aqui”, a assessora provocou a discussão sobre ser centro e periferia, com a pergunta: “Como nos tornamos periferia?” A partir do fenômeno da imigração e do refúgio, ela destacou a importância de repensar os fundamentos cristãos da ética. Isso porque, o cristianismo, quando está no centro, pode também contribuir para justificar a violência ou discriminação contra migrantes e refugiados, sobretudo quando são reforçados termos como “povo eleito”, exclusivismo na salvação, entre outros.
“É possível sentir Deus em situações de total exclusão e ausência de dignidade?” ou “Qual é a concepção de Deus que carregamos?” também foram algumas das questões colocadas. Há o Deus nômade, que peregrina pelo deserto. Há o Deus de Agar, que foi expulsa de sua casa, e o Deus silencioso de Jz 19, que narra a história de uma mulher, sem nome, casada com um levita. Essa mulher foi violentada e depois esquartejada. Nesse texto, não se ouve a voz de Deus. Também não se fala de Deus. É o Deus que silencia.
A partir das provocações, foram feitas algumas considerações pelos participantes, entre elas:
1) Comunidades religiosas devem acolher imigrantes e refugiados, mas sem anular a identidade desses imigrantes;
2) Em um contexto de conflitos, como o vivido pelo Brasil, há a necessidade de fortalecer o fator positivo da diversidade religiosa, uma vez que imigrantes e refugiados pertencem a diferentes religiões. Nesse sentido, pergunta-se o que é mais importante: o ser humano ou a fé;
3) As imigrações atuais são consequência do capitalismo. As fronteiras erguidas são injustas;
4) Importante identificar estratégias para a superação do racismo, xenofobia, etc.
Na segunda parte da oficina, a partir do tema “Trajetórias de Direitos: imigrantes e refugiados, problemas e desafios”, os imigrantes que participaram da oficina partilharam sua experiência no Brasil. Os principais destaques foram:
a) Lá fora, no exterior, o Brasil mostra-se acolhedor e signatário dos principais documentos internacionais sobre imigração e refugio;
b) Apresenta também uma agenda positiva de direitos humanos;
c) No entanto, a realidade brasileira mostra algo diferente. Não tem estrutura para receber imigrantes e refugiados;
d) Os centros públicos de acolhida a imigrantes e refugiados, muitas vezes, são ocupados por pessoas que desconhecem a realidade dos imigrantes;
e) O idioma é uma barreira grande para imigrantes acessarem políticas públicas. Brasil não oferece uma estrutura para imigrantes e refugiados aprenderem a língua portuguesa;
f) Os imigrantes bolivianos destacaram o trabalho análogo à escravidão. Há alguns trabalhando por R$ 300,00 mensais. O número de bolivianos no Brasil é de aproximadamente 660 mil. Em São Paulo, vivem aproximadamente 300 mil imigrantes;
g) Existem brasileiros que pensam que imigrantes estão no Brasil para roubar empregos dos brasileiros;
h) No caso dos imigrantes haitianos, geralmente são bem preparados. Alguns falam mais de três idiomas. Esses imigrantes poderiam ter bons empregos, mas estão subempregados porque sua formação não é reconhecida;
i) Brasil abre as portas, deixa os imigrantes entrarem, mas depois não sabe o que fazer com eles;
Com base em tudo o que foi discutido, foram feitos alguns encaminhamentos:
a) Criação de uma rede de religiosos e religiosas em favor dos imigrantes e refugiados. Esta rede pode realizar ações internas, sensibilizando as comunidades de fé. Ações externas: incidência pública contra xenofobia, racismo, melhoria nas condições de trabalho dos imigrantes;
b) Necessidade de mapear igrejas que já realizam o trabalho;
c) realização de uma nova oficina nos dias 15 a 16 de abril de 2016, em São Paulo.
Outra oficina também será realizada em Santa Catarina, com data e local a definir.
Fonte: Conic