Por Lizandra Carpes – Cebi Joinville Santa Catarina
Jornalista
O curso do Cessep de diálogo Inter Religioso 2017 chegou a sua última etapa de assessorias e o tema trabalhado nos dias 17 e 18 pelo professor Marcelo Barros foi a Espiritualidade e a Casa Comum. O primeiro passo do encontro foi conduzir o grupo a fazer uma memória de todas as outras temáticas trabalhadas com a intenção de perceber o que mudanças provocou, o que encantou e ao mesmo tempo o que pareceu um entrave, ou ficou “engasgado”.
Em seguida Barros explica que o ponto de partida é observar a realidade do mundo. Assim, salienta que a principal característica desta realidade que permeia a história é de um mundo cruel de desigualdades e injustiças. Neste contexto as religiões aparecem como legitimadoras e favorecem estas crueldades, umas com mais responsabilidade, outras com menos.
Outro ponto para a reflexão dentro desta temática é o pluralismo, a diversidade cultural e religiosa. Barros ressalta que por conta das diferenças as religiões precisam aprender a viver em diálogo. No entanto, o diálogo pede o aprofundamento de quem é Deus, o que é crer e que imagem de Deus se passa. O diálogo pressupõem também um objetivo, para que se quer dialogar e que direções esta ação aponta. Para o diálogo é preciso uma linguagem minimamente comum.
De acordo com Barros é preciso fazer a distinção entre religião que é a institucionalidade e a religiosidade que é o que se sente e acredita. Espiritualidade vem de Espírito (energia, força, sopro de vida, hálito de vida). “Eu preciso do outro e da outra para descobrir o que Deus quer de mim”, completa.
Para compreender o universo da espiritualidade é necessário também ter maturidade na identidade de fé e para isso é preciso educação interior. Barros trabalha os sentimentos e as memórias das pessoas do grupo para aprofundar o tema.
Uma das necessidades imprescindíveis para o aprofundamento na espiritualidade é escutar. A escuta é uma acolhida prévia, é se debruçar, é consciência, é opção. “Escutar é ouvir com o coração, diferente de ouvir com o ouvido externo e este é o principio de qualquer caminho espiritual”, salienta Barros. Para o Padre Lionel Eméric Dofonnou, missionário comboniano de Togo/África, as explicações de Barros são muito importantes porque ele fez uma síntese para que tenhamos uma consciência ecológica comum a todas as pessoas e a partilha.
A espiritualidade ecológica pauta a humanidade desde a ancestralidade e começou observando o mistério da natureza. “O outro sempre tem a linha do mistério, do inalcançável e eu preciso do outro, a natureza também tem isso”, diz Barros. Imaculada Rodrigues Usma do Movimento de Mulheres Luta Pacífica da Colômbia/Medelin relata que, o que mais tocou foi a dimensão do “ser” e como as palavras de Barros chegam a alma, porque revelam novos conceitos. “A relação com a ecologia, com o ser, quebrou paradigmas tradicionais, a espiritualidade da sexualidade, o cósmico, o sentido de Deus em mim e nos outros”, lembra Imaculada.
A partir do momento que o ser humano descobre que tudo é energia e está interligado e está em harmonia começou a entrar em contato com os astros, com a terra, com a água, com o vento… “Tudo isso por traz tem uma luz que é a tradução da palavra Deus, isso está na natureza e o ser humano é potencializador de luz”, expõe Barros.
Barros aponta que Deus não está nas pessoas para elas, mas sim, para direcioná-la ao outro e aprofundou sobre a integração da sexualidade no projeto de vida das pessoas. Viver de maneira integrada ligando sexualidade e amor. “Quando ligo os dois dou ao amor uma dimensão corporal e a sexualidade uma dimensão de sentimento”, reflete. Segundo Yohana Lezcano Lavandera do Centro Martin Luther King Jr, em Cuba/Havana o que mais chamou a atenção foi o estar relacionado com o amor e da forma que foi expresso que Deus está em mim para ti. A espiritualidade coletiva e a energia de troca com todas as pessoas. “Relação direita ente Deus, criação e seres humanos”, completa.
O curso do Ceseep encerra no dia 19 com as avaliações e os projetos que cada um dos participantes irão elaborar para desenvolver os trabalhos nas suas regiões.