Em parceria com o GELEDÉS, instituto da mulher negra, o Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) promoveu em janeiro desse ano o Curso de Pastoral e Relações de Gênero de 2017, com o tema: “MULHERES NEGRAS E DIGNIDADE HUMANA: PELA SUPERAÇÃO DO RACISMO E DAS DESIGUALDADES”, que foi coordenado por responsáveis das duas instituições.
Para a realização do curso, as entidades somaram, para tanto, sua experiência no campo da reflexão, da formação e de práticas de intervenção social.
Para a coordenadora do GELEDÉS, Maria Silvia, o encontro foi um sucesso. A advogada destaca que o Curso tem por finalidade formar multiplicadores, ou seja, mulheres e homens que trabalham em situações de fronteira, de enfrentamento de diversas realidades, e levarão esse tema para ser aprofundado ou colocado em prática.
Maria Silvia deseja que o Curso de Pastoral e Relações de Gênero aconteça em 2017 e, além disso, ele agregue mais pessoas e, principalmente, mais homens que possam debater e refletir a realidade da mulher negra em uma sociedade ainda machista e patriarcal.
Para a psicóloga e candomblecista, Célia Zenaide da Silva, o Curso ele se torna ainda mais importante pelo momento histórico que se vive na sociedade brasileira, um momento de desmonte de politicas públicas e de ataque a direitos adquiridos.
Neste sentido é bom adquirir conhecimento para saber como enfrentar e reagir diante dessa realidade. “Se não discutirmos e nos unirmos, fazendo a reflexão do que esse desmonte de políticas e direitos representa, nós não vamos conseguir manter os programas e discutir para avançar”, afirmou.
Célia destacou, ainda, que as temáticas abordadas foram muito importantes e as pessoas que assessoraram são muito competentes e dominavam os temas. De acordo com ela, “isso suscitou em diversos momentos um reviver as violências que já sofri e que ouvi de meus pacientes acho que para mim e para minha família, paras as pessoas de minha religião”.
Depoimentos das/dos participantes do Curso
MARIA DE JESUS CAMPOS SOUSA
O CURSO LATINO AMERICANO DE PASTORAL E RELAÇÕES DE GÊNERO cujo tema de 2017 é “MULHERES NEGRAS E DIGNIDADE HUMANA: Pela superação do racismo e da desigualdade” tem redimensionado a minha visão sobre as “Relações de Gênero” e revelado as muitas demandas que historicamente permanecem aquém das grandes mesas de debate, que é a presença (orgânica/viva/como sujeito de direitos) da mulher negra, suas lutas para sair da invisibilidade, suas muitas diásporas que tendem a se manterem em campos de permanência, e o forte encarceramento das violências na esfera do privado, o que dificulta relativizar e nomear os “lugares de fala” e de “resistências”, disputa por agendas e ocupação dos territórios de negociação por políticas de direitos humanos básicos (saúde, educação, remuneração digna, etc.).
Percebo nos diálogos e palestras a revelação dos muitos limbos que confinam homens e mulheres negros (as) em sistemas que perpetuam as desigualdades. Os lugares revelados desvelam processos de violência contra mulheres negras ao longo da história, o que mostra fortemente como se dá essa construção de fronteiras veladas.
É doloroso constatar as condições que mantém cativas meninas e mulheres negras, pobres coisificadas e destituídas de suas identidades, constatar a permanência do racismo patrimonial, patriarcal e institucional nas ausências de políticas públicas que tratem as questões de gênero redimensionando o direito dessas meninas e mulheres.
CÉLIA ZENAIDE DA SILVA
Através das elucidações adquiridas mediante as palestras do curso continuar provocando quanto à questão das mulheres negras nos espaços que estamos apontando para os ciclos reproduzidos pelo racismo.
No nosso cotidiano, nos deparamos com as mais diversas formas de discriminações e preconceitos, a partir deste curso nos sentimos provocadas, instrumentalizadas e inspiradas para continuarmos buscando sobre a temática e ocupando os espaços para o enfrentamento da questão tratada acima.
JANIRA JESUS SOUZA DE FRANÇA
Mulher negra filha de Joana Jesus Souza e Noberto Alves Souza, nascida dia 06-08-1955 mas registrada como sendo dia 02-04-1955, mãe de Hundira Souza da Cunha e Aiira Souza de França, Estar aqui nesta discussões durante estes dias, serviram para reafirmar a importância da continuidade da luta contra o racismo institucionalizado que gerou e continua gerando o machismo, o genocídio da juventude negra, e outras tantas faces de violência e opressão contra negro e negras as suas instituições religiosas. Além disso, as discussões trouxeram temas que precisam ainda continuar o debate. Por que se constituem um desafio as populações negras.
FÁTIMA DE ARAÚJO GIORLANO
Este curso vem me propiciando a oportunidade de voltar-me para dentro de mim, para minha maneira de compor e de me expressar na comunidade.
Foi muito rica a partilha com irmãs negras, que possuem outras vivencias familiares, bem como o resgate das tradições ancestrais, que nos unem e a reafirmação da militância que nos preserva.
ANA MARIA DA SILVA SANTOS
Dentro da dinâmica do curso, do que foi apresentado, o que mais me tocou e me impressionou foram os temas: Masculinidade e Identidade Negra com o Deivison Nkosi; família Negra, com a demonstração dos símbolos Africanos na visão dos ADIMKRA, com a professora e pedagoga, Tatiane Souza.
Ouvi falar de mulher negra e de sua Religiosidade de matriz africana, com uma leitura da palavra (tradição).
Este curso está sendo “Fantástico”, resumindo numa palavra.
Hoje com a leitura feminista da bíblia, num recorte racial, trazida pela Ana Luiza Cordeiro – CEBI- MS foram-nos trazidas reflexões muitos instigantes e muitos boas. Com sua apresentação nos deixou questões sobre as quais devemos refletir.
MARIA D´AJUDA VIANA LIMA
Sou Maria D’Ajuda Viana Lima, tenho 35 anos filha de Ana Viana Lima e Aurino Vieira Lima, tenho 5 irmãos. Trabalho numa Instituição que foi fundada por mulheres negras, indígenas e camponesas. Meorgulho em morar e trabalhar neste espaço.
Está no CESEEP, em especial fazendo o curso de Mulheres Negras e Dignidade Humana. Mim faz sentir mais tranquila, ainda mais que o grupo as facilitadoras (o), coordenadoras (os), os conteúdos, funcionarias (os) equipe da cozinha e dentre outros. Respeitam minhas poucas palavras e até mesmo meu silencio, silencio este, não quer dizer que não esteja entendendo, mas estou atenta a tudo e a todos.
Sou uma cidadã afroidegena, educadora, mãe de Yan Lima Xavier, companheira de Marilson Xavier de Jesus.
“Nenhuma de nós e tão boa, quanto todas nós juntas”.
MARIA DAS GRAÇAS GOMES DA CRUZ
O curso tem sido um caldeirão de aprendizado. Todas as vivências e palestras têm sido enriquecedoras para meu conhecimento: as trocas de experiências de todas as participantes, o incentivo à produção escrita de nossa própria história. Como mulher negra, tem instigado bastante esse momento.
Creio que seja só um começo para enfrentarmos os desafios abordados: a educação de todas como sendo sujeitas de direitos e saberes, desconstruindo toda forma de racismo em nossa sociedade e empoderando nossas mulheres negras.
Encontrar a mulher negra na Bíblia foi muito importante para minha vida e levar conhecimento para outras negras e não negras de Campinas e por onde eu passar.
ROSE CRISTIANE SALVADOR DE SOUSA BARBOSA
Cheguei ao CESEEP carregada de expectativas positivas em decorrência de experiências anteriores vividas pelos colaboradores do instituto das Irmãs OBLATAS do santíssimo redentor que por aqui passaram, organização pertencente a pastoral da mulher de Salvador que felizmente trabalho.
O projeto força feminina unidade oblata- SSA trabalho com processo de inserção cidadã da mulher em situação de prostituição. Universo complexo, repleto de pobreza, vulnerabilidade, drogadição, estigma e etc. Mas essa mulher tem rosto. Esse rosto é negro.
Foram muito ricos os dias aqui partilhados, histórias de vidas, ancestralidades, abertura, feminismo negro e troca.
Saio do CESEEP tomada de entusiasmo para fortalecer o meu povo e multiplicar esse lindo trabalho.
Obrigada ao Geledés e ao CESEEP, personificados por Suelaine Cordeiro e Padre Beozzo.
Obrigada a todas e todos que dividiram comigo dias bonitos.
Gratidão.
WALDICÉIA DE MORAES TEIXEIRA DA SILVA
Impressões pessoais sobre o curso:
Meu nome é professora e pastora Wall (Waldiceia de Moraes Teixeira da Silva), uma junção do nome do meu pai Valdir e da minha mãe Enicea. Sou carioca, em Brasília DF, desde 1980.
Eu me auto declaro: mulher negra, quilombola, favelada, professora, protestante e pastora.
Segundo o censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nós mulheres, em geral, somos 53% da população brasileira e no DF, somos 55,1% de mulheres negras, conforme a campanha de desenvolvimento do Planalto Central (CODEPLAN).
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) através do novo mapa das religiões constatou que entre 25 organizações religiosas mais populares, em 23 delas, as mulheres são a maioria das e dos fiéis. No entanto, não ocupamos espaços de poder.
As pesquisas acadêmicas comprovam que a nós, mulheres negras, estão reservadas nas organizações religiosas em geral, a limpeza dos templos, a preparação dos alimentos etc…
Mesmo com essa realidade, pela primeira vez, participo de um curso que tem em sua matriz curricular, a situação das mulheres negras nas organizações religiosas.
Estar como cursista no curso “Mulheres Negras e Dignidade Humana” me diz que tem valido a pena continuar sensibilizando, conscientizando e formando mulheres negras das organizações religiosas em geral para lutarem, resistirem e sobreviverem pela ocupação dos espaços de poder na sociedade em geral, mas principalmente nas organizações religiosas.
DULCIMARA ALVES DAS NEVES
Como vejo minha participação no curso?
Estou aprendendo muito nesses dias de imersão. Os temas já apresentados têm sido de grande importância para reflexões e novas ações.
Estou gostando mais ainda do grupo. Este grupo, essas pessoas que aqui estão, fazem desse curso algo muito especial.
Mesmo nas nossas diferenças religiosas e de opiniões, sabemos nos ouvir. Sabemos refletir e levar tudo com bom humor, risos e afeto.
Até aqui, tenho gostado de tudo. Tudo tem sido motivo para se aprender.
LINDAURA ARAUJO
Estou muito bem. A preparação para o curso foi boa.
A convivência, algo que acho fundamental, foi muito boa.
As falas foram muito bem preparadas e passam com clareza os conteúdos. Nunca ouvi falar tanto da mulher negra como aqui, e é para isto que estamos aqui. Conteúdo muito bom.
Eu não tenho todo este conhecimento para analisar, debater, mas estou aqui, vou aprendendo.
A equipe é bem organizada; a convivência, 10; a alimentação, 10.
Sinto-me feliz.
MARCIO ROBERTO BARRETO DA ROCHA.
O curso para mim foi mais que necessário para ter ciência sobre relações de gênero até porque em uma atualização da cultura dos usos, costumes e novas ações, me deu uma visão maior do trato masculino e feminino. O que me surpreendeu foi o estereótipo “feminino da mulher negra”. Ampliou meus conhecimentos sobre o tema, que o diálogo aproxima e constrói corações e que é possível irradiá-los aos formadores de opiniões, comunidades e escolas em geral.