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Apesar da tentativa de bispos de desvincular a Campanha da Fraternidade, da Igreja Católica, de “guias ideológicos e partidários”, o lançamento do programa deste ano não ficou livre de críticas à reforma da Previdência e situação do Sistema Único de Saúde (SUS). O tema principal da campanha neste ano são as políticas públicas. Presente à mesa do lançamento, o médico cardiologista e instituidor do observatório de saúde do Distrito Federal, Geniberto Paiva Campos, questionou a reforma da Previdência, principal bandeira atual do governo de Jair Bolsonaro.
“Será que a reforma da Previdência, que já vem discutida desde o governo anterior, ela não seria um retorno ao século 19? Tirar esses direitos?”, afirmou.
Já a representante do Conselho Nacional de Saúde Vânia Lúcia Ferreira Leite, também presente à mesa, fez uma crítica ao sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela citou a Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto de gastos, como exemplo de mudanças que podem comprometer o financiamento do sistema. A mesma emenda também foi criticada por Gilberto Vieira dos Santos, secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário, que citou a necessidade de políticas públicas para os povos indígenas.
O cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse que não há um posicionamento oficial da confederação sobre a reforma da Previdência. “Mas vale aquilo que nós já temos afirmado anteriormente, isto é, que não se penalize aqueles que já são mais sofridos na própria sociedade, que não haja perda de direito dos trabalhadores”, afirmou o bispo. “Nesse momento, na elaboração de uma proposta é necessário considerar esses trabalhadores. O povo mais pobre e sofrido que necessita ser assistido e não sacrificado ainda mais”, disse.
“A Igreja já se manifestou em governos anteriores a respeito disso e a nossa missão profética continua viva, ou seja, nesse momento nós continuamos também a alertar para que ao pensar a vida política do País se assegure os direitos fundamentais da população”, reforçou.
Ao responder sobre as atuais políticas públicas do governo Bolsonaro sobre posse de armas, Dom Sérgio disse que a igreja já ressaltou em outras ocasiões que “a construção da paz seja feita por meio da justiça social”.
Em relação aos indígenas, ele disse que continuam a defender o respeito à vida, terra e cultura dos povos indígenas. “Não é porque temos situações novas que vamos deixar de anunciar aquilo que tem sido critério orientador da conferência episcopal”, afirmou.
‘Sociedade justa’. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, discursou na abertura da Campanha da Fraternidade de 2019 costurando os princípios da fraternidade e solidariedade com os primeiros artigos da Constituição que visam a construção de uma sociedade justa e igualitária.
“A Constituição também clama a sociedade a ser fraterna e sem preconceitos em respeito à pessoa humana” afirmou Dodge. “Esta edição da campanha toca em uma dimensão da fraternidade que fala aos gestores públicos, serviços públicos que são postos à nossa disposição”, disse.
Dodge falou sobre a necessidade da fraternidade nas políticas públicas para imigrantes, “para enfrentar as muitas formas de corrupção e crime organizado, tráfico de drogas, especulação financeira, lavagem de dinheiro”. Ela citou ainda outros problemas atuais como a violência doméstica e o rompimento de barragens, lembrando o caso recente de Brumadinho (MG).