Era o ano de 2004 e Silvania Francisca – então com 30 anos – buscava uma oficina para participar como voluntária no Curso de Verão do ano seguinte, do qual havia se afastado para ir estudar na Inglaterra. Encontrou espaço na tenda Arte com Crianças e começou a participar das formações onde conheceu o voluntário Antonio Salvador, que passou a ajudá-la na preparação para a tenda.
Num encontro de formação em uma chácara, iniciou a amizade entre os dois. Salvador passou a ir buscá-la em seu trabalho para irem estudar a oficina em sua casa, onde acabou acontecendo o primeiro beijo de muitos que virariam um namoro após passarem o primeiro réveillon juntos no final do ano. Silvania, hoje com 43 anos, está há doze anos ao lado de Salvador. Eles se casaram em 2006 após dois anos de namoro e, atualmente, estão como coordenadores na tenda Rodas Culturais Brincantes e Jogos Cooperativos, além de estarem juntos em outros projetos sociais fora do Curso de Verão.
“Algumas pessoas falam que foi um encontro de almas, porque a gente se afina em muitas coisas. Sempre falava assim: ‘se for para ter alguém comigo, tem que ser alguém especial e ele é muito especial, uma pessoa muita humana com um coração incrível”, conta ela, que vê a participação do Curso como uma renovação e uma lembrança de como começou a relação. Salvador também relembra: “Foi uma melodia encantadora à primeira vista. Ela abriu a boca, a sua voz, o seu canto, a sua sonoridade e foi criando em mim um tremedeira e uma emoção. A vida continua e continuamos com a mesma paixão da época em que começamos a namorar”, diz apaixonado.
A história de Silvania e Salvador é apenas uma de várias nas edições do Curso de Verão de simples paqueras entre os participantes dos mutirões ou de relações que se tornaram mais duradouras. Paulo Inácio, 27, e Simone Alves, 27, conheceram-se no Curso do ano passado e namoram hoje há sete meses. “Eu estava lá e vejo uma garota, que achei: ‘nossa, que olho bonito, tenho que falar com ela’. No dia seguinte, foi o primeiro dia de tenda e eis que entra esta mulher de olho bonito que vim a conhecer, a Simone”, conta Paulo, que coordenava a tenda Arte Educação Popular. Simone também simpatizou-se com ele logo de cara. “Gosto muito do som da flauta e ele estava tocando. Fiquei olhando, gostei muito do olhar. Durante o trabalho da tenda, estava tendo muita coisa que eu estava aprendendo com o Paulo como educador. Ele me ajudou muito na questão profissional, além de eu achar ele lindo”, relembra.
Os dois se aproximaram após a ida de cursistas a ensaio de uma escola de samba e se beijaram pela primeira vez no fim da cerimônia de encerramento do Curso, onde todos que participam do mutirão costumam se emocionar ao se despedirem. Simone e Paulo já não possuíam mais agora a relação de educador e cursista e poderiam ser apenas amigos ou mais do que isso. Entretanto, Paulo morava em Brasília ainda naquela época e ela em São Paulo. Eles se afastaram, voltaram a conversar pela internet em abril e se reencontraram em uma formação do curso em junho, quando decidiram namorar mesmo com o receio da distância. Paulo acabou por se mudar para São Paulo em julho por conta de uma oportunidade de trabalho e o namoro só deslanchou.
Atualmente, Simone coordena a tenda Arte Educação Popular junto com o amado. Mas como seria um amor derivado do Curso de Verão? Simone conta um pouco: “Me apaixonei pelo Paulo por poder ser eu mesma enquanto mulher, poder contar coisas (como o receio de namorar alguém que more longe) e saber que não seria julgada, sabemos que vivemos em uma sociedade machista”, afirma.
Paulo também valoriza o seu relacionamento e o relaciona com a vivência do Curso. “Quando se fala de amor no Curso de Verão, tem de se ver as coisas que são tratadas, que é o diálogo, o respeito à pessoa humana, o que vai influenciando. Um amor como o meu e o da Simone tem muito diálogo, a gente constrói a relação, que é o que a gente mais trabalha no Curso”, reflete. “É uma coisa que eu queria muito: uma companheira que a gente pudesse mudar o mundo junto. Nesse mundo que ensina a gente a estar separado, o Curso ensina a estar junto”, afirma.
Paixão e religião
Guto Godoy, 20, é outro ex-cursista e atual voluntário que fala sobre o romance no mutirão. Ele faz parte atualmente da coordenação da tenda Arte e Espiritualidade e conta ter tido dezenas de paixões ao longo dos sete anos de Curso que participou. “O Curso é um lugar onde nós existimos como seres afetivos e a afetividade se expressa de diversas formas possíveis. Uma delas é a amorosa, do cuidado, do beijo, do toque. É parte do nosso ser”, defende. “É um outro modelo de ser Igreja. Pensando em todas as religiões, esse espaço é um convite a quebrar espécies de moralismo. Temos isso quando um ano do curso é para discutir a sexualidade com uma plateia com 300 pessoas”, declarou em relação ao tema do Curso em 2015, sobre a juventude e as relações afetivas.
Segundo Godoy, entretanto, não são em todas as edições do Curso em que há muitas paixões e romances. “Na maioria das vezes, é mais escondido, não por fatores externos, mas por opção das pessoas. Depende muito das pessoas, é aquela história do ‘santo bateu’”, afirma.
Para o monitor, o Curso permite um ambiente de romance por conta de entender o ser humano na sua totalidade, o que às vezes as religiões não conseguem. “Estamos falando de muitas juventudes que vêm para cá e não têm medo de viver a sua afetividade e sexualidade. É uma coisa que é muito interessante para o Curso, ele ser aquele espaço em que nós não precisemos nos maquiar”, declarou.
Claro, o romance não chega de uma hora para a outra para todos os participantes do Curso de Verão. É o caso de Julia Calixto, 23, que está participando do Curso pela primeira vez neste ano. “Eu acho que se você tiver interesse na pessoa já, você pode ir no forró, ver se ela tira para dançar, puxar um papo”, afirma a cursista da tenda da Música, que diz estar aberta para “novas oportunidades”.
Para Julia, as pessoas durante o Curso de Verão ficam mais abertas para conhecer novas pessoas. “O clima é diferente aqui, você se abre mais para conversar, expor suas ideologias. Ainda (não rolou) nada, mas ainda é o quarto dia, tem tempo. Talvez dê tempo e minha amiga aqui do lado (me ajuda)”, brinca a cursista.
Muito legal Disso também é feito nossos cursos, encontros, oficinas, retiros e etc..
A riqueza de vivências no curso de verão é imensa. Não se sai do jeito que entrou no curso. Ele renova almas, possibilita a participação em mutirão… Um grande axé a todos nós!