Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Globo.
É enfadonho participar de mesas-redondas, sobretudo quando reúnem três ou mais debatedores. Convidam-me para ir a Fortaleza, Brasília ou Porto Alegre para conversar sobre a conjuntura política, novas tecnologias de comunicação ou espiritualidade. Gasto tempo e energia com tratativas de viagem, aeroporto, táxi, e preparação do tema. O que me consome ao menos dois dias.
Eis chegado o grande momento. Auditório cheio, mídia local atenta, e o sorriso acolhedor do coordenador da mesa e dos parceiros. Tanto esforço e, agora, sou informado de que a minha intervenção não deve ultrapassar 20 minutos.
Ora, somos democratas, o coordenador é tolerante, e o primeiro a falar ocupa os seus 20 minutos, estende para mais 10, e cessa aos 40. O paradoxal é que, em sua intervenção, enfatizou a importância de democracia… Só não aceita compartilhar o tempo ou respeitar as regras do debate.
O segundo percebe o cansaço da plateia e consome 30 minutos. O coordenador não coordena. Ouve como todos que estão sentados no auditório. Ocupa-se apenas de agradecer a quem terminou de falar e apresentar quem o fará em seguida.
Afinal, é a minha vez de falar. Coloco o relógio sobre a mesa, e faço ponto final quando os ponteiros apontam 20 minutos. O que deveria ter durado uma hora se prolongou por hora e meia! O público, cansado de tanta falação, começa a escassear antes de iniciadas as perguntas.
Um senhor pede a palavra. Não faz pergunta. Profere uma miniconferência. E o coordenador deixa correr solto… Em seguida, uma senhora faz uma pergunta. Aos três. O coordenador sugere que eu responda primeiro. Faço-o em breves palavras. O debatedor do meio ocupa quase cinco minutos na resposta. E o da ponta direita faz o mesmo. Mais gente se retira.
O êxito de uma mesa-redonda depende do desempenho do coordenador. Se não exerce autoridade, não delimita as falas e o tempo das perguntas, o evento se torna cansativo, arrastado.
Participei de debate em Nova York. O coordenador alertou que cada um dos cinco convidados teria, no máximo, 10 minutos para expor seu ponto de vista. E acrescentou que, aos nove, o som seria reduzido e, esgotado o tempo, cortado. Assim, quem ainda tinha algo a dizer falou para si mesmo, sem que ninguém escutasse. A divisão do tempo foi objetivamente democrática.
Mesa-redonda, em minha opinião, deve ter, no máximo, três debatedores. E durar o tempo máximo de uma hora, e mais 30 minutos para perguntas e respostas. E o coordenador não deve cometer a ingenuidade de sugerir que cada pergunta não ultrapasse três minutos. É muito! Um minuto é o suficiente. Assim evita-se que alguém monopolize a palavra e abre-se possibilidade a mais intervenções.
O que é dito acima vale também para comícios, atos públicos e todo tipo de evento que envolva palanque. Em geral, há excesso de oradores. E discursos sem conteúdo e, até mesmo, repetitivos. O que explica o desinteresse do público, exceto da claque partidária ou corporativa pouco interessada em ouvir e disposta a aplaudir.
Bons oradores são, hoje, raros. Muitos confundem boa oratória com discurseira exasperada, recheada de chavões e ofensas aos adversários. Protestam sem saber propor. Buscam emocionar os ouvintes, e não fazê-los refletir. Não se ouvem novidades, informações pertinentes ou propostas viáveis.
Os conferencistas se dividem em duas categorias: os que falam para ser admirados e os que o fazem para ser entendidos. Os primeiros se engaiolam nos conceitos, enquanto os segundos utilizam uma linguagem plástica, rica em metáforas, ilustrada por histórias. Os primeiros manifestam ideias; os segundos, vivências.
Falar em público é uma arte.
Frei Betto é escritor, autor de “Ofício de escrever” (Rocco), entre outros livros.