Com o tema “Ecojustiça e Diálogo Inter-religioso: Caminhos da Espiritualidade e Lutas por um Bem Viver”, teve início no dia 1º de julho a edição 2025 do Curso Latino-Americano de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, reunindo participantes do Brasil, Cuba, Peru e Venezuela. São 16 pessoas que, ao longo de duas semanas, vivem uma intensa experiência formativa, ecumênica e comunitária, promovida pelo CESEEP, em parceria com o Centro Martin Luther King Jr. (CMLK-Cuba) e o Programa de Gênero e Religião das Faculdades EST.
Iniciamos o curso com uma mística profundamente conectada ao cuidado da Casa Comum: sementes foram plantadas, rezos partilhados e a ecoespiritualidade foi celebrada como horizonte comum. Estiveram presentes Wagner Sanchez, diretor do CESEEP; Lurdinha Paschoaletto, educadora popular com longa caminhada na formação ecumênica do CESEEP; e Magno Luiz, de KOINONIA Presença Ecumênica. Em seguida, Maria Maranhão nos conduziu a um momento de integração de corpos e afetos, através de dinâmicas que entrelaçaram as línguas portuguesa e espanhola com leveza e amorosidade.
No segundo dia, Loyet García promoveu uma rica partilha de práticas. Como o curso é continuidade da edição anterior, os cursistas que participaram em 2024 apresentaram uma síntese dos quatro eixos então trabalhados: ecojustiça, ecoespiritualidade, racismo ambiental e bem-viver; e acolheram os novos participantes e temas de 2025.
Logo depois, Suzana Moreira (Movimento Laudato Si’) provocou a construção coletiva de uma análise de conjuntura. Esse mapa da realidade servirá como base para toda a caminhada do curso, numa metodologia que se ancora na Teologia da Libertação: ver, julgar e agir.
Ainda no início da semana, a abertura da turma virtual foi marcada por uma impactante análise de conjuntura feita por Priscilla Ribeiro. Com olhar crítico e esperançoso, ela nos lembrou da urgência de seguir com a esperança freireana diante das desigualdades e injustiças que atravessam nosso tempo.
No terceiro dia, Angelica Tostes, coordenadora do curso, nos guiou em reflexões sobre o diálogo inter-religioso a partir de quatro eixos: diálogo inter-religioso, bem-viver, feridas e cotidiano. Trouxe também a distinção entre o diálogo “interfé”, mais enraizado nas experiências populares e nos territórios da classe trabalhadora, e os diálogos institucionalizados das elites religiosas. Os grupos construíram simulações de diálogos em contextos diversos, dando concretude à discussão teórica.
No dia seguinte, Loyet García aprofundou o debate sobre a disputa de sentidos na fé cristã, chamando atenção para as intersecções entre fé, colonialismo e dominação. A atividade do dia incluiu o exercício de reescrever a história da criação e a oração do Pai Nosso desde um olhar eco-interfé, buscando sentidos que dialoguem com a justiça socioambiental.
Iniciamos então o bloco de estudos interfés com a presença de Waho Degenszajn, monja zen budista, que nos trouxe sua perspectiva frente às desigualdades sociais e climáticas. Passamos o dia em práticas de meditação zazen, partilha de chá e mochi, e aprendizados sobre como a presença plena e a compaixão são caminhos para cessar o sofrimento de todos os seres.
No domingo, 06 de julho, vivemos uma jornada de espiritualidade budista. Pela manhã, participamos de um puja (cerimônia devocional) no Chagdud Gonpa Odsal Ling (budismo tibetano), com visita guiada pela devota Martha Maia, que com delicadeza nos conduziu pelos símbolos e significados do espaço. À tarde, visitamos o Templo Zu Lai (budismo chinês), onde pudemos oferecer incenso no altar e partilhar um chá quente no frio do domingo.
Na semana seguinte, nossa caminhada nos levou às ruas. Participamos de duas potentes experiências com o SEFRAS- Ação Social Franciscana. Na segunda-feira, colaboramos no Chá do Padre, onde servimos mais de 1.000 refeições ao longo do dia e ajudamos a organizar espaços de acolhida noturna para a população em situação de rua. Na terça-feira, conhecemos o projeto Recifran: Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem, que alia inclusão social, trabalho digno e cuidado ambiental.
Como afirmou Frei Vagner Sassi, diretor do SEFRAS e parte da diretoria do CESEEP: “Mais do que um serviço de reciclagem, o Recifran é uma resposta concreta ao abandono social. É onde o cuidado com a Casa Comum caminha junto com a reconstrução da dignidade de pessoas que, por muito tempo, foram invisibilizadas.”
Foram oito dias intensos de espiritualidade viva e luta popular. Seguimos juntxs, com o compromisso de seguir tecendo caminhos de justiça, pois não há justiça social sem justiça ambiental, e vice-versa.
A segunda semana vem aí, com ainda mais experiências, intercâmbios e aprendizados.