Esse é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, em 2016,
que se celebra em 18 de janeiro. Duas motivações e dois apelos estão em jogo. De um lado, a presença viva
de milhares e milhões de imigrantes e refugiados que diariamente batem às nossas portas. Estes, além de
constituirem ao mesmo tempo um povo em fuga e em busca pelas estradas do êxodo, questionam e
interpelam nossos costumes e valores, nosso modo de ser e de viver. Em ouras palavras, chamam-nos à
reflexão sobre nossa própria identidade. A identidade, bem o sabemos, é um processo dinâmico e dialético,
que se constrói no confronto direto com o “outro, estranho e diferente”, no diálogo franco e aberto com o
estrangeiro, com aquele que chega de fora.
De outro lado, a mensagem do Pontífice leva em consideração a resposta do Evangelho, centrada no apelo à
misericórdia. Cruzam-se e conectam-se, dessa forma, a celebração do Dia do Migrante e do Refugiado com a
proclamação do Jubileu da Misericórdia. Uma leitura rápida dos relatos evangélicos, bastará para dar-se
conta que o olhar da misericórdia constitui o fio condutor de toda a Palavra de Deus. A prática de Jesus
Cristo com suas palavras e ações, revelação humano-divina e divino-humana do Pai, incorpora e personifica
semelhante olhar que se manifesta através da compaixão para com os doentes e indefesos, os pobres e
excluídos, os pequenos e últimos, na linguagem simples e profunda do Papa Bergoglio.
Tomemos em mãos alguns exemplos da “resposta do Evangelho”. Em primeiro lugar, os dois resumos das
atividades do profeta itinerante de Nazaré, transmitidos pelo evangelista Mateus. “Jesus percorria toda a
Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e
enfermidade. E a fama de Jesus espalhou-se por toda Síria” (Mt 4,23,24a). E mais adiante: “Jesus percorria
todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curand todo
tipo de doença e enfermidade. Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e
abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,35-36). Nos dois casos, muito semelhantes entre si, vemos
um Jesus que, em lugar de esperar pelos fiéis na entrada dos templos, “percorre” as estradas onde se
encontra o povo, compartilha seus embates cotidianos. Em ambos, o evangelista detém o fluxo da narrativa
para salientar a viva voz a compaixão do Mestre, a qual, mais do que mero sentimento de comiseração,
desencadeia as verdadeiras obras de misericórdia.
Em segundo lugar, temos o chamado “programa de Jesus” em Lucas, o evangelista por excelência da
misericórdia. “Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou
na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus
encontrou a passagem onde está escrito: ‘o Espírito do Senhor está sore mim, porque ele me consqagrou com
a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos
cegos a recuperação da vista; para libertar os oprmidos, e paa proclamar um ano de graça do Senhor’” (Lc
4,16-19). Uma vez mais, a Boa Notícia aos pobres reperesenta a expressão luminosa e confortadora da
misericórdia. No espírito natalino, o “verbo que se faz carne e vem habitar entre nós” (Jo 1,14).
Por fim, mas não em último lugar, retornamos ao Evangelho de Mateus. No palco imaginário do “Juízo
Final”, desfilam os rostos dos famintos e dos sedentos, dos estrangeiros e dos sem roupa, dos doentes e dos
prisioneiros… Na atitude para com eles encontra-se o critério da salvação: “todas as vezes que vocês fizeram
isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram. E todas as vezes que vocês não fizeram isso
a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram” (Mt 25, 31-46). A compaixão de cada um de nós, ao
mesmo tempo que expressa a própria compaixão de Jesus, desdobra-se em obras de misericórdia. Destaca-se
a siatuaçã dos imigrantes e refugiados: “Eu era estrangeiro e me receberam em sua casa” (Mt 25,35).
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
Roma, 8 de janeiro de 2016