Nota de solidariedade aos trabalhadores e às trabalhadoras sem-terra
do Acampamento Dom Tomas Balduíno, de Quedas do Iguaçu (PR)
Foi com pesar que recebemos a notícia do crime que provocou a morte de Vilmar Bordim e de Leonir Bhorback, além de deixar feridas outras sete pessoas. Expressamos nossa solidariedade aos e às trabalhadores e trabalhadoras sem-terra de Quedas do Iguaçu. Que o amor consolador de Deus possa fortalecer aos acampados e às acampadas nesse contexto de insegurança e violência.
Infelizmente as mortes de Vilmar e de Leonir não são fatos isolados em nosso país. Essas mortes retratam a realidade do campo, caracterizada pela violência e pelo abuso de poder. Tudo em nome de um desenvolvimento agrário orientado pela lógica da financeirização da terra e dos demais recursos naturais.
O Brasil passa por momentos de tensão. Violência, intolerância, são recorrentes. As agressões e mortes decorrentes de conflitos agrários são inaceitáveis em um país como o Brasil. Nossas feridas sociais são profundas. Ainda não esquecemos Carajás e nem Corumbiara.
Acumular terra é pecado. Grilar terra é pecado. Utilizar a terra com o único objetivo de gerar lucro é pecado.
As mortes de Vilmar e Leonir não devem ser naturalizadas e nem resumidas a números da estatística sobre a violência no campo. Elas devem provocar, no mínimo, constrangimento na sociedade e também no Estado.
Que nação nós estamos construindo quando o Estado, que deveria zelar pelo bem comum, é instrumentalizado sempre em favor de uma mesma elite econômica que historicamente extrai as riquezas do país, ao invés de produzi-la? Não conseguimos nos libertar dos patrimonialismos, dos colonialismos, do tronco e da chibata.
Quedas do Iguaçu nos coloca a pergunta pela função dos profissionais da segurança pública. Estes devem zelar por todos os cidadãos e cidadãs. Não cabe a mobilização da polícia militar para defender propriedades cujos direitos são ilícitos, já que a grilagem de terra é juridicamente ilegal. Da mesma forma, a polícia, não pode violar a lei no exercício da sua função. Não há lei que dê sustentação para o assassinato deliberado, uma vez que, segundo relatos, os camponeses teriam sido assassinados pelas costas.
Por isso, pedimos a investigação imparcial dessas mortes, a proteção das famílias acampadas e a responsabilização dos mandantes e executores do crime. Que as terras onde os assassinatos ocorreram sejam destinadas para a Reforma Agrária.
A fé mantém a esperança de que um dia será garantido ao povo o direito de viver em regiões pacíficas, em moradas seguras, em lugares tranquilos de paz e repouso!
CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL
Fonte: Conic