No centro restaurado do Rio de Janeiro, a maior atração é o Museu do Amanhã. A construção lembra uma concha marítima a entrar pelo mar, qual embarcação do futuro. Nela, os visitantes são acolhidos por um imenso globo terrestre suspenso no ar. Ao girar, iluminado, ele mostra informações sobre clima, ventos na superfície do planeta e outros dados. Embaixo, em uma sala de projeção de teto arredondado, como primeira atração, abre-se o “Portal do Cosmos”. Na abóbada de 360 graus, projeta-se a explosão da matéria que deu origem aos astros, o surgimento do nosso planeta, a formação da vida e a evolução dos mamíferos, até o surgimento do ser humano e do pensamento. E o portal nos deixa com a pergunta: Qual será nosso futuro? Os polos seguintes do museu falam do atual estado da terra. Nas paredes interativas, são expostos dados sobre a destruição das florestas, a poluição das águas, a contaminação do ar, o desaparecimento de muitas espécies e a fragilidade imensa da comunidade que formamos com todos os seres vivos. É o antropoceno, a atual era geológica, na qual o ser humano interfere diretamente no equilíbrio ecológico e ameaça o futuro da vida no planeta.
No Museu do Amanhã, tudo é didático e claro. Inclusive ao apontar a responsabilidade do ser humano. No entanto, em momento algum, se faz qualquer referência à sociedade organizada como partícipe dessa aventura. É como se existissem apenas o indivíduo e o conjunto da humanidade. Não se mostra a função dos Estados e dos organismos internacionais. Nenhuma alusão à ONU. O museu revela dados da Tecnociência e deixa claro: o estilo de vida que a sociedade dominante impõe à humanidade é o maior responsável pela destruição do planeta.
A relação entre a realidade ambiental e a organização social é mostrada em cenas de cidades grandes, da poluição causada pelas indústrias e pelo transporte urbano. Só não se esclarece que o grande responsável por isso tudo não é um ser humano abstrato e genérico. É um sistema social e econômico. As grandes potências, controladas por poucas empresas multinacionais, mantêm guerras, mais explosivas ou de baixa intensidade, para vender armas e impor à humanidade o seu domínio.
O mundo jamais poderá alcançar o equilíbrio ecológico, enquanto 1% da humanidade possuir uma riqueza equivalente aos 99% restantes dos seres humanos.
Ao se colocar como meros gerentes das grandes corporações econômicas, governantes e legisladores fazem com que a democracia e direitos humanos se tornem dispensáveis. Nos anos 70, um ministro do governo militar brasileiro, ainda hoje conselheiro de presidentes, afirmava: “Para a eficiência dessa Economia, a Ética é relativa. Empresas e governos não são a CNBB”.
A política do atual governo brasileiro é apenas o começo. A humanidade já viu esse filme antes, em países como a Grécia e estados do sudeste asiático. Ali também, bancos pagaram políticos. Com golpes, ou sem necessidade deles, impuseram reformas econômicas. Destruíram direitos adquiridos dos trabalhadores, mudaram regras da previdência social e agravaram a desigualdade social. Essa realidade internacional só pode gerar uma instabilidade social e política dominada pela fome e pela violência. Por todo o mundo, se espalha uma onda de violência, que o papa Francisco chama de “terceira guerra mundial em pedaços”.
Diante de tudo isso, as comunidades indígenas, afrodescendentes e movimentos sociais organizados se articulam para pensar o futuro e propor uma nova forma de relação do ser humano com a terra e a natureza. Na América Latina, as comunidades indígenas propõem o paradigma do Bem-viver coletivo e pessoal como objetivo do Estado e como caminho da sociedade. Nesta semana, especificamente no dia 05 de junho, a ONU celebra mais uma vez o Dia internacional do Meio Ambiente. Quem está comprometido com algum caminho espiritual e crê em Deus como fonte da vida deve unir o cuidado do planeta com a Fé. Ao defender a vida e a dignidade humana, assim como a relação de todos os seres vivos, testemunhamos a presença do Espírito Divino, como amor que fecunda o universo.
Marcelo Barros