“…Ao final dos tempos existia a terra, rica e formosa. O ser humano viveu nos campos e nas pradarias com as árvores da terra.
Disse: ‘Façamos nossas residências nestes lugares tão bonitos’
E construiu, pois, cidades de cimento armado e de aço. E as pradarias desapareceram. E viu que isso era bom.
No segundo dia, este ser humano contemplou a água da terra e disse: ‘despejemos nossos desperdícios e lixos na água para desfazermo-nos da sujeira’. E fez assim. E as águas pouco a pouco apareceram sujas e com o odor fétido. E viu que isso era bom.
No terceiro dia, fixou-se nos bosques da terra. E disse: ‘cortemos as árvores para construir coisas e convertamo-las em massa para fazer papéis’. E fazendo assim as paisagens deixaram de ser verdes e as árvores deixaram de existir. E viu que isso era bom.
No quarto dia, este mesmo ser humano percebeu que havia muitos animais e que as crias brincavam ao sol e corriam pelas pradarias. E disse: ‘Ponhamos estes animais em jaulas para divertir-nos e brinquemos de matá-los’. E assim o fez. E não houve mais animais sobre a face da terra. E viu que tudo isso era bom.
No quinto dia, respirou (agradavelmente) o ar da terra. E disse: ‘lancemos ao ar os gases das fábricas e o vento os levará’. O ar carregou-se de pó e todas as criaturas vivas morreram asfixiadas ou carbonizadas. E viu que isso era bom.
No sexto dia, prestou atenção em si mesmo e, vendo a diversidade de línguas e de idiomas da terra, teve medo e se pôs a livrar-se deles. E disse: ‘Construamos armas poderosas e destruamos aos outros antes que os outros nos destruam’. Construiu estranhos artefatos e a terra terminou calcinada pelas grandes guerras. E viu que era bom que ocorresse assim.
No sétimo dia o ser humano descansou de tanto trabalho feito e a terra ficou tranquila, porque nada mais habitava na terra. Não houve mais tardes nem manhãs: era o último dia”.
(Adaptado de Antigénesis, de Emilio L. Mazariegos)