Leia, abaixo, a íntegra dos textos usados na Celebração de Abertura do 31º Curso de Verão (2018), com o tema: “Ética e participação popular na política a serviço do bem comum”:
Dia Comum
(Zé Vicente)
Hoje parece um dia comum:
O mesmo sol,
A mesma dor de cada hora.
Aí por fora,
O mesmo “tudo bem” formal
Na boca de tanta gente!
É, parece um dia qualquer:
Uma segunda feira acinzentada
Ou uma quinta sem expressão.
Nem feira.
Ali na esquina, conversando,
Seu João Lavrador
E dona Maria desempregada,
A mesma queixa, de um patrão comum.
Provavelmente.
Um dia como os demais:
O presidente, sorridente,
Nas manchetes globais.
Desfilando sem Temer,
Disfarçando reais intenções,
Desviando atenções.
E o povo a ver fantasmas
De um passado sem glória,
De um futuro de incertezas reais.
Hoje, que data comemoramos?
A morte de Getúlio Vargas?
O 7 de Setembro?
15 de Novembro?
01 de Maio ou Outubro?
É um dia ordinário!
Nada de letras vermelhas,
De feriado, de festas…
Que festa?
Nos tempos de minha infância,
Qualquer lembrança
É passatempo num dia comum.
Mas eu desconfio
Desse dia assim tão comunista.
Levanto a vista e vejo o império ali
Na tela da TV.
Pode ser.
Ele invadiu mais um país
Que ousou discordar, desobedecer
E recusar ser quintal
De milhares e empresários ambiciosos.
Ele também comprou
E manipulou as eleições
Noutro país aqui ao lado,
Pra garantir que fosse eleito
Um seu aliado.
E já se prepara
Para suar botas, armas e propaganda
Na próxima façanha,
Nalgum lugar aqui por dentro.
Nesse dia,
Vejam as medidas na economia
E as notícias da tarde.
Tudo muito camuflado, enfeitado,
Feito presente de aniversário.
De fato,
Hoje não é um dia assim comum:
Mais de 500 aniversários de tudo e de nada.
Tudo pra eles,
Nada pra nós da maioria.
Que dia! Uma boa notícia:
“Hoje, mais um cego enxergou!”
Avivar o reencanto pela vida, pela luta, pela ética…
Quando eu vim para este mundo eu não atinava em nada.
Era nu/nua, numa despudorada inocência.
E um sistema social, político, religioso e moral me recompôs.
Mascarou meu pensar, meu agir, meu sentir, meu dizer e meu ser.
Tornar a olhar o mundo que me cerca, desafia a me harmonizar com as cores da minha alma.
Deixar falar a poesia do meu coração e, apesar dos dias cinzentos em decomposição, avivar o meu reencanto pela vida, pela luta, pela justiça e pela ética de um bem comum.
Despir-me do que me molesta, maltrata, machuca, fere, violenta e me vestir com as cores dos frutos da compaixão, do respeito à diversidade, da partilha e do caminhar juntos.
Para me vestir de um mundo novo, justo solidário só há uma regra: o amor.
Renovar o meu olhar para a outra e para o outro, senti-las e senti-los com todas as forças do meu ser.
Quero sentir você: pulso, sangue, ritmo, emoção.
É minha emoção se misturando com a sua e assim, estaremos prontos para iniciar um projeto.
O Curso de Verão, nestes dias que se seguem, é como um ensaio, um grande laboratório, onde as coisas vão acontecendo, sensibilizando olhares, na perspectiva de um mundo novo.