Temer se convenceu de que não convém privatizar a Casa da Moeda. Resta agora encontrar recursos para mantê-la.
Fundada em 1694, ali são fabricados papel-moeda, moedas, medalhas, passaportes, selos postais, certificação digital, diplomas, comendas etc.
A moeda é um símbolo nacional. Nela são gravadas estampas de pessoas que se destacaram na história do país, evocações de feitos heroicos ou imagens de nossa flora e fauna.
Entregar a Casa da Moeda a uma empresa privada, possivelmente de capital estrangeiro, equivaleria a desfigurar a nossa bandeira ou deturpar a letra do Hino Nacional. Isso reduziria a autoestima da nação.
Ninguém ignora que o Brasil é, hoje, um país colonizado, que depende de investimentos vindos de fora e da importação de produtos manufaturados e de primeira necessidade, como trigo. Nossa indústria foi sucateada. Sequer fabricamos nossos próprios veículos, apesar de dispormos de tecnologia para tanto.
No Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em Belo Horizonte, aprendi que a história do Brasil se divide em ciclos de exportação de matérias-primas. Primeiro, o pau-brasil, que deu nome ao país, em seguida cana-de-açúcar, ouro, café etc.
Desses ciclos não nos libertamos até hoje. A diferença é que, agora, as matérias-primas têm o elegante nome de commodities. Produzimos para o mercado externo, não para o interno. E ainda há quem acredite que os exportadores trazem para as finanças nacionais todo o lucro do que vendem aos estrangeiros, como se não existissem paraísos fiscais.
Entregar a Casa da Moeda à iniciativa privada seria correr o sério risco de estimular a corrupção. Se ela já é endêmica com o dinheiro público, pode-se supor o que aconteceria quando o real passasse a ser fabricado por uma empresa particular! E como o único objetivo do capital é o lucro, isso tornaria mais cara a nossa moeda, pois o governo teria de pagar por ela.
Agora o governo Temer insiste em privatizar a Eletrobrás. Não me surpreenderei se, em breve, se decidir privatizar o Estado brasileiro, entregando-o à Confederação Nacional da Indústria. Então já não haverá nem mais Estado mínimo, objetivo dos neoliberais. A nação se tornará uma grande corporação, na qual a cidadania cederá lugar ao clientelismo; os direitos civis, às ofertas do mercado; e a política, à mera administração do negócio chamado Brasil. E, como em qualquer empresa, serão alijados todos aqueles que não forem produtivos, já que manter aposentados, enfermos e idosos é muito dispendioso para a Previdência Social, quanto mais para o capital privado!
Frei Betto é escritor, autor de “Parábolas de Jesus” (Vozes), entre outros livros.