Nesse início de 2016, em meio à onda de pessimismo e
prognósticos de desesperanças que inundam o Brasil, temos uma boa
notícia: nesses dias (de 19 a 23 de janeiro) aconteceu em Porto Alegre um
Fórum Social que celebrou os 15 anos dos fóruns sociais. A meta era
fazer um balanço desse processo, analisar os desafios e apontar
perspectivas para o futuro. Dentro desse fórum mundial, realizou-se o
Fórum Social da Educação Popular. Nele, universidades, organizações
de governo e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
partiram da convicção de que “uma verdadeira e profunda
democratização das sociedades passa necessariamente pela
democratização do conhecimento”.
Brasil, a Universidade se tornou mais acessível às camadas mais pobres.
Há mais de 25 anos, a secretária de uma universidade pública acompanha
as matrículas. Ela garante que, até alguns anos, era raro uma família
pobre conseguir colocar seu filho ou filha na Universidade. Atualmente,
programas como PROUNI e outros têm ajudado a democratizar o acesso
ao ensino universitário. Isso não basta. Essa conquista deve ser
valorizada, mas ainda há um longo caminho a percorrer. É preciso abrir a
universidade ao saber popular. A metodologia acadêmica garante
seriedade na pesquisa. Entretanto, quando se fecha no racionalismo
erudito, se torna árido e empobrece.
e as organizações e comunidades populares. A educação popular que
nasce nas comunidades negras e indígenas, na sabedoria do povo da roça
e nas tradições urbanas das diversas regiões do Brasil começa a ser visto
como algo que interessa às universidades não apenas como objeto de
pesquisa antropológica e sim como uma sabedoria que tem muito a nos
dizer para enfrentarmos as crises da sociedade atual. Na luta dos
lavradores em defesa da terra e das raízes crioulas, na caminhada dos
operários e dos sem-teto nas cidades e na organização dos povos
indígenas, os princípios da educação popular têm sido fundamentais e
têm garantido muitos avanços e conquistas. Dessas experiências, brota
um modo de ver a vida que envolve teoria e prática. Contém uma
metodologia de educação que articula diversos saberes e experiências.
Assume as formas musicais e artísticas das culturas regionais e
comunitárias. Assim, procura sempre servir ao protagonismo das classes
populares no trabalho de transformação da sociedade.
De fato, devemos reconhecer que, nos últimos 12 anos, no
É preciso abolir o muro de divisão que separa as universidades
Um dos pioneiros em elaborar uma teoria da educação que uniu
ciência e saber popular foi Paulo Freire. Esse grande mestre nos ensinou
o caminho: partir da realidade do educando e fazer todo o processo da
educação através do diálogo crítico e amoroso. E ter como meta a
transformação do mundo e concretamente da vida do povo. A
alfabetização de adultos iniciada por Paulo Freire e sua equipe conseguiu
resultados maravilhosos no Brasil, em Cabo Verde na África e em todos
os países onde foi experimentada. Sem dúvida, é um método a ser sempre
atualizado e aprimorado, mas seus princípios são até hoje válidos e
fecundos. Através de elementos como cânticos, danças, expressões
artísticas e costumes, a educação popular nos mostra que o comunitário
tem prioridade sobre o individual, embora nunca passe por cima das
pessoas e dos direitos de cada um. A educação popular nos ajuda a
analisar a realidade social e a situação política brasileira. Essa passa a ser
vista, não pelos olhos da elite interessada em manter seus privilégios e
sim a partir dos interesses das camadas mais pobres do povo. E alimenta
a confiança de que outro modelo de sociedade é possível e urgente.
que se removam os muros que separam a cultura acadêmica da educação
popular. O diálogo das Igrejas cristãs e de outras tradições religiosas com
pessoas e organizações de base também têm se servido muito dos
princípios da educação popular. A metodologia do diálogo e a
horizontalidade nas relações devem estar nos processos de formação de
jovens e adultos para viverem uma fé amadurecida e crítica, inserida no
mundo. Também no serviço social das Igrejas aos lavradores e pobres das
periferias urbanas, o diálogo aberto nos aproxima da proposta de Deus.
Na maioria das tradições, o Espírito Mãe se revela a nós como Amor e
nos indica o caminho da vida comunitária como sendo meio de comunhão
com o divino em nós e no universo.
Esse fórum social, realizado em Porto Alegre, colaborou para
que se removam os muros que separam a cultura acadêmica da educação
popular. O diálogo das Igrejas cristãs e de outras tradições religiosas com
pessoas e organizações de base também têm se servido muito dos
princípios da educação popular. A metodologia do diálogo e a
horizontalidade nas relações devem estar nos processos de formação de
jovens e adultos para viverem uma fé amadurecida e crítica, inserida no
mundo. Também no serviço social das Igrejas aos lavradores e pobres das
periferias urbanas, o diálogo aberto nos aproxima da proposta de Deus.
Na maioria das tradições, o Espírito Mãe se revela a nós como Amor e
nos indica o caminho da vida comunitária como sendo meio de comunhão
com o divino em nós e no universo.
Marcelo Barros é monge beneditino