O CESEEP realiza durante o ano diversos cursos de aprofundamento no campo social, político, afetivo e religioso. O próximo, acontecerá de 2 a 20 de maio, a 29º edição do Curso Latino Americano para Militantes Cristãos. Com o tema “Política e Estado: a serviço do mercado ou do povo?”, o curso acontecerá na Casa Comunitaria do CESEEP (Rua Barão de Loreto, 184, Vila São José – Ipiranga, São Paulo – SP)
Destinado a pessoas atuantes nos meios populares, movimentos sociais, ONG`s, comunidades ou pastorais, o curso favorece o intercâmbio das experiências dos participantes no cotidiano de suas vidas e de suas práticas políticas, sociais e de espiritualidade. Quer contribuir oferecendo instrumentos de análise e elementos sociológicos, políticos, bíblicos e teológicos para a reflexão sobre os desafios éticos atuais, para a construção de um futuro mais justo e acolhedor das diversidades humanas dentro da mesma casa comum.
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A vocação do Estado é tornar-se espaço de organização da vida pública, a partir das aspirações e lutas dos diferentes grupos políticos e atores sociais, na busca do bem comum. Na democracia, acredita-se na força da ação coletiva organizada para se decidir os rumos do Estado, por meio do voto, a partir da hegemonia conquistada na sociedade e da disputa político-partidária.
Há, porém, crescente desilusão por parte dos cidadãos com o jogo político e partidário, dominado pelos interesses econômicos de bancos e corporações que financiam eleições e corrompem o estado. Propostas de candidatos eleitos e programas de partidos escolhidos para governar não são implementados. Os poderes executivo, legislativo e judiciário acabam colocando-se a serviço dos interesses dos que financiam as campanhas eleitorais, dominam a mídia e representam o mercado e o capitalismo globalizado.
Há por outro lado, consciência também crescente de que o Estado e as políticas públicas são um espaço de disputa entre os movimentos populares, sindicais e ambientalistas e o capital e seus interesses.
A reflexão crítica acerca da política e do Estado levanta desafios para nosso agir concreto. Como podemos nos fortalecer enquanto sociedade civil, grupos sociais, como nação e redes internacionais? Quais são os novos sinais de esperanças dentro dessas sociedades dominadas pelo capital? Como podem os movimentos sociais qualificar-se para responder aos novos desafios que se colocam à sua frente? Pensar em novos rumos é uma urgência a ser enfrentada com abertura a esses questionamentos, com melhor organização e articulação popular local, nacional e internacional, sustentadas por uma esperança militante.
O Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular – CESEEP busca estudar essas questões com uma abordagem multidisciplinar, a partir de diferentes ângulos: econômico, político social, cultural, ambiental e de gênero.
Entre os assessores estão o economista professor Ladislau Dowbor, a assistente social e psicodramatista, Irmã Dirce Pontes, o filosofo, professor Dr. Allan da Silva Coelho, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, o Teólogo e Pastor Metodista Instituto Superior Evangélico de estudo Teológicos (ISEDET), professor Dr. Nestor Míguez.
Entrevista
O professor doutor Allan da Silva Coelho, em uma breve entrevista, antecipou em linhas gerais o tema de sua palestra: “Política e Estado: A serviço do estado ou do mercado?”. Confira.
Ceseep – O tema da palestra do senhor é uma questionamento: “Política e Estado: A serviço do povo ou do mercado?”. Qual a melhor resposta para essa questão?
Professor doutor Allan da Silva Coelho – A primeira parte, apresenta as nossas possibilidades: Temos uma relação entre a política e o Estado. Mas, assim como há uma ação política que visa alcançar o poder do Estado, já descobrimos que há muita ação política sem necessidade da estrutura do Estado. Desse modo, os movimentos sociais atuam politicamente mesmo fora do Estado, formulando, exigindo, pressionando por políticas públicas de inclusão e de cidadania.
A segunda parte, indica a direção de nossa reflexão: muitas vezes o Estado, seu poder e sua estrutura são apropriados pelos interesses do Mercado econômico, deixando de fora o bem comum enquanto serviço ao povo. Discutir este tema é fundamental para entender o quanto o Estado de fato é um instrumento de dominação e se seria possível sonham um mundo sem tal tipo de domínio.
Ceseep – Como mudar a lógica do Estado e da política de estar a serviço apenas do capital?
Professor doutor Allan da Silva Coelho – O principal tema que proponho como reflexão é o funcionamento do mecanismo do fetichismo. Temos um fetiche do dinheiro, do capital e da mercadoria. É a relação de fetichismo que articula os interesses do lucro da produção material com a adesão subjetiva das pessoas a um sistema de vida que explora e mata, mas promete vida e fascina. Compreender o fetiche permite desvelar o caráter sacrificial da política moderna, como as teses de Austeridade, que são aplicadas pelo Estado, contra o povo, como se fosse um serviço ao povo. Mais do que evitar que o Estado esteja a serviço do capital, é preciso descobrir sob quais caminhos finge, como farsa, servir o povo.
Ceseep – A mobilização popular é um caminho para pressionar por mudanças no Estado?
Professor doutor Allan da Silva Coelho – Claro, não há mudanças que beneficiem o povo sem a luta e o engajamento dos movimentos sociais. Esta mobilização precisa ser capaz de resistir às lógicas de exclusão e negação da vida, mas também de construir alternativas onde a normalidade capitalista seja contestada. Construir novas formas de sociabilidade humana é o primeiro desafio e um passo importante para que possamos pensar em que medida precisamos mudar o Estado que já está tão acostumado a funcionar em prol da classe dominante e da reprodução do capital.