Reprodução: Carta Capital.
Sempre aprendi que a vida cristã é uma vida de compaixão por todos aqueles que sofrem. Não importa qual seja esse sofrimento – financeiro, emocional, espiritual, físico… – aprendi que quem seguia a Jesus deveria, não apenas se importar, mas agir em prol dos desfavorecidos.
Lembro de uma pulseira que usava na época da adolescência, quando era líder de células de jovens na igreja, ela dizia: “O que Jesus faria?”. Era como um lembrete de como agir como o Mestre, aquele que seguia rompendo as tradições para servir o povo, andando com os marginalizados, dando de comer aos famintos, curando os enfermos.
Como Jesus agiria frente à fome que cresce em nosso País, frente às perseguições dentro das igrejas que professam seu nome? O que fazer frente à violência e morte?
Quando medito sobre o projeto de Deus para a Nação, penso na cura de um Brasil quebrado e desesperançoso. Jesus nos ensinou que o projeto de Deus não é o de dominar, mas o de servir! O Evangelho de Mateus traz o momento em que houve uma discussão sobre quem assentaria ao lado de Jesus no Reino dos Céus, mas o mestre, com isso, ensina algo que tem sido perdido dentro das nossas igrejas:
“Jesus os chamou e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser servo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:25-28).
O projeto de Deus para a nossa Nação é de restauração de vidas e das famílias divididas. Um projeto que visa o fim da fome, da violência e da morte, pelo direito de que todas as pessoas tenham teto e dignidade.
Enquanto igrejas cristãs devemos servir, não dominar! O projeto de Deus não é um projeto de poder, mas um projeto de serviço à comunidade, não de imposição de doutrinas e crenças.
O pecado gera morte! Vidas sendo tiradas, líderes religiosos sendo atacados nas suas igrejas, os valores cristãos estão sendo corrompidos por valores mundanos de egoísmo e individualismo, que tem colocado a defesa da dignidade humana como algo de “esquerda”. O pecado é um sintoma de um coração quebrado, separado de si que enxerga o outro, o pobre, o vulnerabilizado como inimigo a ser combatido.
Os falsos profetas que distorcem os ensinamentos de Jesus, dizendo até que alimentar os famintos é algo de satanás, quando na verdade, Jesus uma vez disse, quando falava sobre o Reino dos Céus: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver (…) Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? (…) E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25: 34-45).
Que o projeto de pecado e morte não prevaleça sobre nossa Nação. Esse projeto que está destruindo famílias, adoecendo pessoas, matando até mesmo dentro de igrejas, e que considera que alimentar os famintos é obra do Diabo.
O caminho da Igreja e daqueles e daquelas que professam a Cristo é um caminho de Graça, de abundância em perdão e paz, muito longe do ódio, armas e violência que o atual governo representa.
Que nesse segundo turno das eleições tão marcantes para nossa história em especial para o nosso futuro, que possamos escolher um candidato que não zombe dos enfermos e marginalizados, que tenha um projeto para todos nós, trabalhadores e trabalhadoras, cidadãos e cidadãs do Brasil, que buscamos viver em paz com nossos entes queridos, com alimento na mesa, educação para as crianças, com saúde e segurança pública garantida.
Angelica Tostes
Teóloga, mestra em Ciências da Religião, coordenadora auxiliar de cursos do CESEEP, professora e pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.