No dia 7 de março, a catedral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), em Brasília (DF), recebeu a Roda de Conversa Casa Comum. O evento, realizado pelo CONIC em parceria com a IEAB, abordou a temática da violência contra a mulher. Um dos pontos centrais do debate foi o fato de que muitas pessoas, ainda, utilizam-se de textos religiosos para justificarem a violência e a opressão contra as mulheres, seja no contexto doméstico ou mesmo no âmbito das congregações cristãs.
Um fato observado na Roda: algumas mulheres quando procuram por ajuda nas igrejas ouvem de seus pastores que o marido está ‘com o demônio’. Que é necessário orar para que o demônio saia do corpo. Assim, se o marido a violenta, a responsabilidade acaba sendo da mulher, que deve orar e jejuar para ajudar a ‘libertar’ o marido.
Em Brasília, a cada duas horas uma mulher sofre agressão sexual. Mesmo assim, conforme relatou Lúcia Bessa, presidente do Conselho de Mulheres do DF (da Comissão de Combate à Violência Familiar Contra a Mulher) e vice-presidente da Comissão das Mulheres da OAB, “é muito difícil levantar o tema da violência contra a mulher no meio das igrejas”, disse. “Para ONU violência contra a mulher é uma chaga no Brasil. Precisamos perder tempo em nossas igrejas para falar sobre a violência contra as mulheres. Este é um assunto sobre o qual precisamos falar todos os dias e tirá-lo de traz das cortinas do púlpito”, acrescentou Lúcia.
Na avaliação da pastora e teóloga Claudete Beise Ulrich, a primeira questão a ser tratada é: na Bíblia, temos que olhar para um texto dentro de seu contexto, pois senão corremos o risco de ver a Palavra de Deus ser usada contra as mulheres como violência simbólica. “É importante se perguntar como Jesus se relacionou com as mulheres e com os grupos. Nesse sentido, é preciso se ater a leituras onde a mulher tem papel igualitário, como Gn 1.27, Gl 3.27, entre outros”, disse.Nas igrejas ainda há muita violência, mas as mulheres – dentro dessa dinâmica – nem sempre sabem que aquilo é uma violência. A violência aparece de forma tão sutil que elas não percebem. Vão se moldando aos ‘trejeitos’ do marido. Soma-se a isso que em muitas igrejas novas que tem surgido os pastores não possuem preparação alguma para atender temas relacionados à violência contra a mulher.
Foi consenso, no grupo, que o debate sobre a violência contra as mulheres precisa chegar nas igrejas, precisa ser abordado em todos os espaços: catequese, escola dominical, etc. Mas também nas escolas, pois senão, a cultura não muda. Educação é a palavra-chave.