Bem dizia Tom Jobim que o Brasil não é para principiantes. Ao obstruir o processo que apuraria os crimes dos quais Temer é acusado, o Legislativo deixou evidente a inversão de poderes. Agora, ele ocupa o espaço do Executivo e o presidente da República come nas mãos dos parlamentares agraciados com emendas, cargos e prebendas.
O Judiciário se tornou refém do Legislativo desde o momento em que decisões monocráticas de juízes do STF fizeram retroceder medidas adotadas pelo ministro Fachin para apurar crimes que teriam sido cometidos por parlamentares e ex-parlamentares.
Divorciado de 95% da população que rejeitam o governo Temer e 81% que apoiavam o julgamento do presidente pelo STF, o Congresso Nacional, com inúmeros deputados e senadores com o pescoço dependurado na corda da Lava Jato, agora se sobrepõe ao Executivo e ao Judiciário.
Lembra o velho coronel Machado, da zona da mata de Minas, em cuja fazenda o crime campeava. Ao receber na porteira o delegado de polícia e o prefeito do município, foi enfático: “Aqui dentro a autoridade sou eu. Portanto, sou eu quem faço as leis.”
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.