Como Associação Mulheres EIG – Evangélicas pela Igualdade de Gênero, nos impulsionamos para “parir” um novo mundo com novas e necessárias conformações emocionais, culturais, políticas e teológicas, há tempos gestadas por nossas ancestrais. Esta é a seara em que a Associação Mulheres EIG – um coletivo fundado ainda em 2015 e que, desde dezembro de 2021, tornou-se uma associação composta por mulheres cis e trans, por meio do processo de institucionalização – trabalha e milita constantemente, com presença marcada nas ruas e nas redes sociais. A Associação Mulheres EIG é composta por mulheres de fé, com uma fé embasada em várias nuances, pertenças e gradações. É uma fé exercitada na cadência de uma espiritualidade feminista, na casa comum e na coletividade de nossas ações e, sobretudo, na fé no amor, porque Deus é amor (1 João 4:8).
Um aspecto importante que nos orienta como mulheres de fé está internalizado coletivamente no aconchego de afirmar Jesus como amigo das mulheres. Essa afirmação, de fato, se apresenta como uma concepção êmica em nossa identidade. Nossa sinalização carrega o entendimento de que Jesus era amigo e confidente das mulheres. E não apenas isso, Jesus incentivou o protagonismo das mulheres em contextos diversificados, mesmo diante do predomínio enraizado simbólica e materialmente das culturas patriarcais. Algumas dessas mulheres apresentadas nos Evangelhos são nomeadas, lamentavelmente outras não o são.
Jesus ouviu e aprendeu com a mulher cananeia (Mt. 15.21-39). De outras mulheres, Jesus recebeu o testemunho vivo do amor que ele pregava. Em certos momentos, Jesus se compadeceu delas. Em outra ocasião, mulheres prepararam especiarias e unguentos para cuidar do corpo falecido e pálido de Jesus após a crucificação. E no ápice da expressão teológica e experiencial da apresentação do reino de Deus, Jesus se mostrou ressurreto para elas. “Eram Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e outras que estavam com elas, que contaram essas coisas aos apóstolos” (Lc 24.10).
Assim, na cadência desse entendimento e de outros mais, em nossas atuações e ações práticas inseridas na realidade da vida cotidiana, a Associação Mulheres EIG denuncia a persistente hipocrisia de alguns que afirmam a inconsistência entre, por exemplo, o feminismo e o cristianismo. A Associação Mulheres EIG quer contribuir para o fim da violência contra meninas e mulheres, inclusive aquelas que nos espreitam tragicamente nos espaços religiosos ou circundantes. As mulheres da EIG denunciam constantemente que o machismo é um pecado e que mata. Elas também se mobilizam pelo fim da intolerância religiosa e do racismo. Além disso, as mulheres da EIG denunciam constantemente que o patriarcado e o sexismo são molas propulsoras do sistema econômico hegemônico que destrói não somente a vida de meninas e mulheres, mas também corrói a sociedade como um todo. A Associação Mulheres EIG se mobiliza para pregar o alcance de uma vida abundante e integralmente digna para todas, todes e todos.
É a partir de suas membras e de suas coordenações espalhadas em todas as regiões do país que a Associação Mulheres EIG vem diversificando suas ações para apresentar contribuições sociais relevantes. E é diante desses pressupostos que a Associação Mulheres EIG participa, incentiva e abraça as mobilizações para o 8M. E mais: sensibilizando nossos espaços de fé e prática desde o chão da vida, em 2023 teremos como orientação o mote: Mulheres de fé pela igualdade de gênero, pela democracia e pela laicidade do Estado. Anualmente, realizamos uma seleção interna, na qual colhemos e escolhemos, por votação, o tema orientador de nossa agenda anual.
Entendemos que nossa tarefa não é fácil. As construções teológicas – sejam elas clássicas ou contemporâneas – esbarram na dificuldade de acessar espaços distanciados dos esquemas mentais amalgamados por interpretações sexistas, misóginas e patriarcais. Mas carregamos conosco fixamente palavras que nos animam, que nos ensinam a escuta empática e aquecem nossos corações com a amizade verdadeira e a convocação de incentivo, pois assim Jesus expressou: “Mulher, grande é a sua fé” Mt.15:28).
Lauana A. Flor é mãe de menina, mulher EIG SP, bacharela em teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestra e doutora em Ciências da Religião pela UMESP.