Esse é o tema da Semana dos Povos Indígenas de 2018 que, em nosso país, se realiza anualmente, nos dias próximos ao 19 de abril que, desde 1940, é celebrado como “Dia do Índio”. Em todas as regiões do Brasil, se promovem encontros e eventos que ajudem a população a redescobrir os povos indígenas e a se solidarizar com eles. De norte a sul, o Brasil deu nomes indígenas a cidades, praças e centros comerciais, mas como memória de personagens antigos da História. De fato, as estimativas atuais ensinam que, quando os conquistadores chegaram à nossa terra, aqui habitavam cerca de quatro milhões de pessoas distribuídas em mais de mil povos. A colonização foi responsável por um verdadeiro genocídio. Apesar disso e de todos os sofrimentos e perseguições sofridas, os índios resistem e, desde os anos 90, veem crescer sua população. Conforme o censo mais recente, atualmente no Brasil existem mais de 900 mil índios, pertencentes a 305 povos conhecidos. Além deles, existem ainda mais de 70 tribos isoladas que não têm nenhum contato com nossa sociedade. Se no tempo da colônia, todo o país era deles, em nossos dias, 1.116 áreas são reconhecidas como territórios indígenas, nas quais, desde tempos imemoriais, vive um ou várias comunidades indígenas. De todos esses territórios, até hoje, somente 398 áreas foram demarcadas e legalizadas. E mesmo dessas terras confirmadas pela lei, muitas delas continuam invadidas por garimpeiros, fazendeiros e latifundiários.
Até hoje, os Guarani Kaiowá, expulsos de seu território por fazendeiros, se sentem chamados pelo Espírito a voltar a suas terras consideradas sagradas. E eles dizem que voltam para viver ou para nelas morrer. E, de fato, muitos homens, mulheres e crianças, têm sido assassinados e ali enterrados. Os fazendeiros fazem isso imaginando que assim os expulsam. No entanto, quanto mais matam índios, mais a terra se torna sagrada pelo sangue dos que caíram e os parentes dos falecidos nunca a deixarão.
Essa Semana dos Povos Indígenas nos ajuda a descobrir que muitos índios (no Brasil, 325 mil) vivem nas periferias das cidades e muitos deles estão misturados no meio da nossa população mais pobre. Alguns jovens índios frequentam nossas escolas e cada vez mais temos índios formados em diversas profissões liberais.
O tema dessa Semana dos Povos Indígenas nos lembra que a Paz está intimamente ligada à Justiça e ao direito à posse da Terra. Sem acesso ao seu território, um povo não pode viver sua cultura própria e, pouco a pouco, se dispersa e desaparece. A Justiça, a Paz e o direito à Terra estão intimamente ligados e são fontes do Bem Viver, proposta que, hoje, é compreendida como um paradigma civilizatório para toda a humanidade.
Todas as pessoas de boa vontade e que têm fome e sede de justiça sabem que o cuidado com a Terra, a Água e a natureza deve ser a prioridade de qualquer sociedade sadia. A educação, a saúde e a dignidade de vida do povo devem ser confirmados como objetivos do Estado. Muitos setores lutam por uma radicalização da democracia participativa e direta. Cada vez mais um número maior de pessoas está convencido de que os povos indígenas têm muito a nos ensinar nesse caminho. Essa Semana de Povos Indígenas, ao proporcionar ocasião de diálogos e maior escuta dos índios pode nos ajudar a aprofundar esse caminho. A raiz de tudo isso é a redescoberta de uma cultura amorosa que, antropologicamente, se compreende como uma espiritualidade humana. Nesse tempo pascal, quem é cristão pode ouvir Jesus ressuscitado afirmar em relação aos índios: “Tudo aquilo que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que fazeis” (Mt 25, 40).
Marcelo Barros