Vivemos em uma sociedade de comunicação rápida, na qual o celular, a internet e as redes sociais nos ligam, instantaneamente, ao mundo inteiro. Há pouco mais de 30 anos, em termos de comunicação, a realidade era totalmente diferente. De lá para cá, o mundo viveu uma transformação que, em milênios, não conheceu. Novos meios de comunicação plasmaram uma nova cultura social e deram mais agilidade e eficiência aos meios de comunicação clássicos como a imprensa, o rádio e a televisão.
Atualmente, os novos meios virtuais formam a opinião pública e, junto com os veículos tradicionais têm poder imenso. Estudos revelam que notícias postas na internet, falsas, ou apenas com algum fundo de verdade, influem no resultado de eleições e decidem a Política de povos e continentes. Por isso, em todos os países, a função dos meios de comunicação social tem sido tema de reflexão e debates.
A ONU considera o 03 de maio como “dia internacional da liberdade dos meios de comunicação”. É sempre importante se perguntar de qual liberdade falamos e para que. Sem dúvida, a liberdade é fundamental, mas deveria haver liberdade para semear ódio e violência? É justo que os meios de comunicação, nas mãos das pessoas mais ricas do país, tenham liberdade de mentir e propagar notícias falsas desde que favoreçam os interesses da elite que domina o país? Como criar uma reação democrática, popular e que não seja na direção da censura e sim da crítica?
Atualmente, em muitos casos, os proprietários das grandes empresas de comunicação e agências internacionais de notícias são os mesmos acionistas dos conglomerados de petróleo e das indústrias de armamento a serem vendidos nas guerras que a imprensa estimula.
Quem acompanha os noticiários no Brasil sabe como a maioria deles privilegia a violência. Confundem a missão de informar com o trabalho de explorar ao máximo os crimes e doenças que atacam a sociedade. As notícias de um atentado que matou centenas de pessoas se misturam com um jogo de futebol do dia anterior ou o nascimento de um filhote de urso no zoológico.
Ao mesmo tempo, para combater o inimigo que o império quer esmagar, a chamada guerra híbrida usa meios mais baratos e eficientes do que soldados armados. Os meios de comunicação subsidiam uma enxurrada de notícias falsas que criam a opinião pública. Na América Latina, calam sobre o descalabro e o fracasso total do governo argentino, porque esse é de direita, mas, diariamente, divulgam notícias negativas de qualquer governo que pretenda transformar a sociedade. Assim, muita gente passa a acreditar que o governo da Venezuela é ditatorial e a oposição, feita por uma pequena elite violenta, é democrática e justa.
No Brasil, os meios de comunicação fortalecem a campanha de criminalização de movimentos populares. As grandes redes de comunicação e as notícias falsas de internet possibilitaram o golpe que derrubou o governo democrático e honesto da presidenta Dilma, demonizaram o que eles consideraram esquerda e garantiram a vitória da extrema-direita nas eleições de 2018.
No Brasil, o dia 5 de maio foi instituído como Dia Nacional das Comunicações. Poucas pessoas sabem que, nessa data, em 1865, nascia em Mimoso, perto de Cuiabá (MT), uma grande figura das telecomunicações brasileiras: o Marechal Rondon. O nome deste grande brasileiro, descendente de índios, é lembrado quando se trata de defesa dos povos indígenas e da integração do território nacional, mas poucas pessoas o ligam às telecomunicações.
Em 1955, quando Cândido Mariano da Silva Rondon completava 90 anos, passou a ser homenageado como Patrono das Comunicações do Brasil. Talvez sua origem o impelisse a uma comunicação mais humana com os indígenas. “Morrer, se preciso for. Matar, nunca” – era o seu lema. Com ele, Rondon ganhou projeção e reconhecimento internacionais. Era outra época. Naquele tempo, mesmo se o Brasil era dominado por governos ditatoriais e a sociedade sempre foi violenta, ao menos os governantes não defendiam execuções sumárias e militares não atiravam em cidadãos que passassem de carro pela frente do quartel para irem a uma festa de criança. Provavelmente, o presidente atual e seus ministros nem queiram lembrar a figura de Rondom ou o considerem comunista como Paulo Freire, Dom Helder Camara e outros esquerdistas.
Também as Igrejas e grupos espirituais têm se servido dos meios de comunicação. A fé se torna objeto de espetáculos religiosos televisivos, sejam cultos neopentecostais ou missas-show de padres pop. Estúdios substituem templos. Misturam-se reality-show, ficção e liturgia.. Entretanto, a fé nunca pode ser objeto de publicidade.
Esse panorama está longe do evangelho de Jesus, boa noticia de que o projeto divino de paz e justiça começam a se realizar neste mundo. Por isso, muitas vezes, é fora do universo religioso que jornalistas cumprem a função de verdadeiros evangelizadores e fazem com que os meios de comunicação cumpram sua função de colaborar com a fraternidade humana em comunhão com o universo.
Marcelo Barros, monge beneditino, teólogo e biblista, assessor das comunidades eclesiais de base e de movimentos sociais. Tem 55 livros publicados, dos quais o mais recente é “Conversa com o evangelho de Marcos”. Belo Horizonte, Ed. Senso, 2018.