O teólogo padre Benedito Ferraro, presidente do CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços a Evangelização e Educação Popular), durante a abertura do 31º Curso de Verão, falou sobre o sentido do tema deste ano – “Ética e participação popular na política a serviço do bem comum”:
Pensar a ética e a política com a participação popular a serviço do bem comum nos faz pensar no ser humano em suas relações com os outros seres humanos e com a natureza, sua casa comum. Convida-nos a pensar sua corporalidade, pois seu corpo constitui o pressuposto de sua consciência, da sua autoconsciência e da sua intersubjetividade: “A corporalidade emerge como mediação irrecusável das relações dos seres humanos entre si e dos seres humanos com o mundo natural” (Manfredo de Oliveira, p. 34). No exercício de sua liberdade, o ser humano, aberto aos outros seres humanos e aberto a outros mundos possíveis, está, de certo modo, para além de qualquer limite e, portanto, na capacidade de modificar as situações criadas e modificá-las. Isto porque, na história nada é definitivamente adquirido, como também nada é definitivamente perdido! E quando olhamos a realidade econômica, social, política, cultural, ecológica, à luz da fé, ou seja, à luz da Palavra de Deus, encontramo-nos com a dimensão transcendente de nossa realidade de pessoas e somos convidados a pensar em nossa responsabilidade frente à vida e frente ao futuro da vida, vida das pessoas e vida do planeta.
A prática das comunidades eclesiais de base (CEBs) e a Teologia da Libertação e também o Curso de Verão, nestes 31 anos de reflexão, nos têm ajudado a fazer a relação entre fé e vida, compreendendo a vida em todas as suas dimensões: econômica, social, política, cultural, ecológica. Nesta relação somos convidados a agir com ética pensando no bem comum, comprometendo-nos com o exercício da cidadania ativa e com a construção de uma sociedade socialista, democrática, plural e planetária (Movimento de Fé e Política, p. 53). Este é também o caminho indicado pelo Fórum Social Mundial na perspectiva da construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, socialmente igualitária, culturalmente pluralista, ecologicamente integral. Na sabedoria dos povos autóctones marginalizados pelos poderes coloniais, somos convidados a assumir a Sociedade do Bem-Viver e do Bem-conviver (o Sumak Kawsay dos Povos Andinos) e a Busca da Terra Sem Males (Ybymarã-e’yma) dos indígenas do Brasil. Na perspectiva bíblica, sobretudo entre os pobres, é a retomada da memória do igualitarismo tribal, que influenciou o Movimento de Jesus de Nazaré e que se configura no Projeto do Reino de Deus.
Acompanhados pelos assessores e assessoras e por todos aqueles e aquelas que estão dando sua contribuição ao 31º Curso de Verão, vocês vão poder desfrutar das reflexões e testemunhos de pessoas que estão imbuídas da Utopia do Reino de Deus pregado por Jesus de Nazaré e que, nas situações de impasse, anteciparam o futuro com gestos de liberdade, solidariedade, compaixão e esperança. Bom curso para todos e todas, concluiu Ferraro.