Na pesquisa da Unesco sobre a sexualidade da juventude brasileira há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e busca de conhecimento sobre o tema. Os jovens brasileiros tendem a iniciar a vida sexual mais cedo (entre 11 e 14 anos) e consideram desimportante a virgindade. Mas nem sempre se protegem contra as DST (doenças sexualmente transmissíveis) e a Aids, e tendem a discriminar os homossexuais.
Pesquisa no Ceará indica aumento da gravidez precoce e diminuição dos casos de aborto. As meninas, com certeza induzidas por exemplos televisivos, preferem assumir a “produção independente”, ainda que haja riscos de abandono da escola, ingresso na prostituição e mais criança na rua. Na pesquisa da Unesco, 14,7% das entrevistadas admitiram ter engravidado pela primeira vez entre 10 e 14 anos.
O Unicef constata que a educação escolar de uma menina equivale, na América Latina, em termos de efeitos sociais, à educação de cinco meninos. Quanto mais escolaridade da mãe, menor o índice de natalidade e maior o período de vida do filho. São as mães que assumem, sempre mais, a chefia da família, e transmitem valores aos filhos.
Os jovens se queixam de ter poucas fontes de conhecimento sobre a sexualidade. Só nas últimas décadas as escolas começaram a introduzir o tema em salas de aulas, assim mesmo com ênfase na higiene corporal, tendo em vista as DST.
O melhor seria a TV, com o seu poder de irradiação, entrar em detalhes a respeito deste assunto. Mas nem sempre interessa tratar sexo e afeto às claras. O tabu reforça o mistério, que excita a imaginação, alimenta o voyeurismo, atrai milhares de telespectadores à exibição de produtos que imprimem à sexualidade o sabor libidinoso da pornografia. E dá-lhe delegacias de mulheres e, paralelamente, a proliferação de assédios, estupros, feminicídios, e o preconceito aos homossexuais.
Certo dia vi, num hospital público, com uma menina de 13 anos, bastante machucada. Havia sido espancada pela mãe, inconformada por vê-la grávida. E ficou revoltada quando a menina declarou não saber quem é o pai. Havia participado da dança do “trenzinho” em baile funk: rapazes sentados, a braguilha aberta, as garotas sem calcinha pulando de colo em colo…
O que me chocou não foi tanto o ritual orgíaco. Mas a carência, o vazio, a busca desenfreada de afeto reduzida àquela espécie de “roleta russa”. Não se trata de imoralidade, e sim de amoralidade, como entre os répteis. Pela vergonha de assumir valores, cultivar o espírito e fazer projetos. Nos escombros da modernidade, tudo é aqui-e-agora. E quando o desemprego, o baixo nível da educação, a violência, a desagregação familiar, nos fecham as cortinas do horizonte da felicidade, o jeito é apelar para o prazer imediato, epidérmico, já que a vida parece se reduzir a um jogo de sobrevivência e a morte pode estar nos espreitando na próxima esquina.
Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – Autobiografia Escolar” (Ática), entre outros livros.