Em 22 de janeiro de 2012 a Polícia Militar de São Paulo realizou em São José dos Campos um despejo que ficou internacionalmente conhecido pela truculência e por inesquecíveis cenas de barbárie.
No Pinheirinho moravam 1.800 famílias, que haviam construído sua vida ali há mais de 8 anos. O terreno pertencia a uma massa falida ligada ao especulador Naji Nahas, condenado por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Apesar disso e mesmo com uma ordem em contrário da Justiça Federal, os moradores foram jogados na rua com uma violência que chocou o país. As cenas de crianças e idosos desolados em meio às bombas permanecem vivas.
Menos de quatro anos depois, a tragédia pode se repetir. Desta vez na comunidade Vila Soma, em Sumaré, onde moram quase 10 mil pessoas.
Assim como no Pinheirinho as famílias da Vila Soma estão lá há vários anos, em casas consolidadas. Assim como no Pinheirinho, há uma prefeitura intransigente e um judiciário disposto a sujar as mãos de sangue com canetadas irresponsáveis.
Os representantes da ocupação têm buscado de todas as formas uma solução negociada. Aceitaram sair do terreno desde que o governo ofereça uma alternativa de moradia para as famílias.
As negociações avançaram nos últimos meses, construindo-se uma proposta de acordo que envolveu os governos federal e estadual. No entanto, a Prefeitura de Sumaré demonstrou intransigência e bloqueou as tratativas. Talvez pelo fato da Vila Soma estar localizada na região central da cidade, onde há fortes interesses imobiliários.
A prefeita Cristina Carrara (PSDB) parece querer entrar na história –ou na lata do lixo da história– ao lado do então prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (também do PSDB), como responsável política por um massacre. Cristina, inclusive, tem seu mandato questionado na Justiça Eleitoral por abuso de poder, já tendo sido derrotada em duas instâncias.
Os juízes André Gonçalves Fernandes e Gilberto Vasconcelos Neto parecem também dispostos a pleitear vaga de réu na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) junto com a famigerada Marcia Loureiro, juíza de São José dos Campos.
E o governador Geraldo Alckmin (PSDB), se optar por mandar a tropa de choque contra a Vila Soma, mostrará não ter aprendido a lição do caso Pinheirinho.
Ainda há tempo para evitar um massacre. Se faltar o necessário bom senso às autoridades públicas, a tragédia estará anunciada. Porque, assim como no Pinheirinho, as famílias da Vila Soma não terão alternativa que não a resistência.
Guilherme Boulos é formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.