Colocar a vida em primeiro lugar, tanto no dia a dia pessoal, como, principalmente, no modo de organizar a sociedade é o espírito do “Grito dos Excluídos”. Trata-se de uma iniciativa das pastorais sociais da CNBB, junto com os movimentos sociais que, a cada ano, se realiza na Semana da Pátria e, especialmente, no dia 07 de setembro.
O objetivo do “Grito dos Excluídos” é provocar uma nova mobilização social das comunidades e grupos de base. Essa iniciativa ajuda as comunidades e movimentos sociais a fortalecerem a unidade na defesa dos seus direitos e no exercício de sua cidadania. Nesse ano de 2016, em todas as capitais e em muitas cidades do Brasil, acontecerá a 22a edição do grito. O lema desse ano foi tirado de uma afirmação do papa Francisco no encontro que, em agosto de 2015, na Bolívia, teve com representantes dos movimentos sociais de todo o mundo. Ali, o papa afirmou e, nessa semana, o povo repete nas praças e ruas de nossas cidades: “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata”.
Atualmente, vivemos na América Latina e no Brasil, uma manifestação muito clara da crueldade de um sistema imperial que se aproveita da fragilidade e mesmo de erros dos governos mais progressistas do continente e paga à elite conservadora de plantão para encontrar os meios legais, legítimos ou não, para instalar governos que sirvam a seus interesses e roubem da população e, especialmente dos trabalhadores, os poucos direitos sociais que esses tinham conquistado.
Infelizmente, muita gente, anestesiada pela comunicação alienada e enganosa dos grandes meios de comunicação, só se dará conta quando for tarde demais. Nessa semana, o grito do povo organizado e dos movimentos sociais por mais vida e justiça se fará através de fóruns temáticos, seminários e caminhadas que visam fortalecer a consciência social das pessoas e reuni-las em um grande mutirão para construir um Brasil novo e mais justo com todos os seus cidadãos. Se conseguirmos isso, nunca mais será possível uma elite sem votos tomar o poder com aparência de legalidade e atrelar de novo o país aos interesses do império, cujos interesses estão por trás de todos os golpes, militares ou parlamentares, (mais de 108 em menos de cem anos) que ocorreram em toda a América Latina.
Nas cidades gregas antigas, a Ágora era a praça da cidade ou o pátio, onde se realizavam as discussões públicas. Ali, os cidadãos tomavam as decisões sobre o rumo a seguir para toda a cidade. Na cultura do antigo Oriente Médio e no Israel bíblico, as cidades eram rodeadas de muros. Na porta principal de entrada, havia um pátio onde se reuniam os cidadãos para os julgamentos de pessoas aprisionadas ou suspeitas de crimes. No entanto, naquele mundo, só eram considerados cidadãos os homens adultos, casados e proprietários de terra. Mulheres, adolescentes e crianças, além de estrangeiros e lavradores sem terra não eram cidadãos e não tinham direitos constitucionais. Não participavam da ekklesia, assembleia dos cidadãos. Foi justamente esse nome (ekklesia) que, nos meados do século I de nossa era, Paulo de Tarso tomou do mundo grego para denominar as comunidades de discípulos e discípulas de Jesus. A partir de então, essas comunidades de periferia urbana que não faziam parte das assembleias do Império, passaram a se constituir como “assembleias de Jesus Cristo” ou Igrejas, nome que a História guardou para designar as comunidades cristãs. Nos primeiros séculos, o termo Igreja designava principalmente as assembleias locais de cristãos/ãs reunidos/as como comunidades fraternas. O termo que mais caracterizava a vida dos cristãos/ãs era a participação plena na comunidade. Toda Igreja cristã deve ser sinal do amor divino no mundo. Deveria se organizar como uma espécie de ensaio, ou modelo de fraternidade que se poderia propor para o mundo todo. É esse exercício concreto de participação que os movimentos sociais ensaiam no Grito dos Excluídos. Nele, somos todos chamados a retomar nossa esperança no Brasil e a trabalhar juntos por uma Reforma Política, necessária e urgente do sistema brasileiro e por uma sociedade mais justa e solidária.
Marcelo Barros