Na tarde de ontem, 8 de janeiro, no Teatro TUCA, João Pedro Agustini Stédile, 66, um dos maiores defensores da reforma agrária no Brasil, expôs sua análise de conjuntura política nacional. Stédile é economista e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Durante quase uma hora de conversa, o economista partilhou e conduziu reflexões que caracterizam a atual conjuntura política do Brasil.
Ele iniciou a abordagem do tema envolvendo os cursistas e todos que acompanhavam a transmissão do Curso de Verão 2020, alertando para a responsabilidade individual e também coletiva.
“Conjuntura política é um exercício para saber o que está acontecendo no caminho. Mas desde que você esteja trilhando o caminho. É um instrumento da prática. É impossível fazê-la sozinha, pois ela é coletiva”.
João Stédile acredita que o Brasil depende cada vez mais do contexto histórico internacional. “Somos um grande país, uma grande população e quiçá o território do Planeta Terra que ainda tem mais recursos naturais. Então todos os capitalistas do mundo vêm ao Brasil para tirar sua lasquinha”.
Para ele, diante da atual crise mundial, que vem desde 2008, as lutas entre as duas classes antagônicas – capitalistas versus trabalhadores – propostas pelo capitalismo têm suas batalhas intensificadas.
Neste mesmo contexto, essa grave crise, provinda do modo de produção capitalista, não se limita a uma crise econômica. E sim, uma crise estrutural que afeta sim a economia como um todo, mas também traz graves consequências sociais, como maior desemprego, a fome e o flagelo dos migrantes. Há ainda a crise ambiental diante das agressões que o capital faz aos recursos naturais. E também crises de valores.
“Porque no passado fomos educados no valor da educação e do trabalho. Agora, para o capital financeiro, não interessa ter trabalhadores estudiosos e nem só trabalhadores”, diz João que alerta para o fato da classe trabalhadora ter sido dispersa pela crise mundial.
De acordo com a análise do economista, diante dessa realidade, o capitalismo desenvolveu um plano. Mas qual seria esse plano do capital atual?
Stélide enumera cinco pontos: apropriação dos bens da natureza (para ganharem dinheiro com água, minério de ferro, petróleo e biodiversidade); apropriação das estatais; transformação dos serviços públicos (que antes eram direitos do povo) em mercadorias; fim dos direitos trabalhistas por meio das reformas trabalhista, sindical e previdência social (direitos construídos ao longo do século XX) e a economia brasileira à serviço dos interesses do capital dos EUA.
Ainda conforme sua análise, a execução desse plano não poderia ser aplicado de forma democrática. Apesar disso, trata-se de uma realidade atual, pois há uma inversão de valores morais. Diante dessa situação o economista conclui que “só teremos uma saída se o povo se unir em uma mobilização social”.
Equipe de Comunicação do Curso de Verão
Ira Romão / Keila Roberts