“Ninguém se engana, ninguém se engana, a nossa história já começou desumana”, com esses versos Thiago Valentim, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no Ceará, iniciou sua fala na segunda-feira, dia 9 de janeiro, quarto dia do 30º Curso de Verão que tem como tema: “Educar para paz em tempos de injustiças e violência”.
A fala de Thiago foi sobre: “A questão agrária brasileira e os conflitos no campo”. De acordo com ele, 2016 foi o ano com o maior número de assassinatos no campo desde de 2013, o que demonstra que os conflitos no campo têm se intensificado.
Muitas vezes os números apresentados pelas autoridades públicas são menores, isso porque o governo não considera muitos conflitos em torno das pessoas como questões ligadas à terra, mas como brigas de relacionamento e desentendimento entre as pessoas, o que faz com que os números do governo federal sejam bem menores.
Thiago destacou que a CPT e os demais organismos que trabalham na defesa dos camponeses, indígenas, quilombolas, sem terra e sem teto e demais povos tradicionais, divulgam esses números para que a sociedade conheça a realidade do campo e se mobilize para ajudar a fazer algo e mudar esse cenário.
“A violência no campo está cada vez mais forte. A violência no campo é histórica. Temos que repensar a história a partir dos que sofrem, dos trabalhadores e trabalhadoras. É uma outra forma de pensar as bases históricas e entender onde estão as raízes do que vivemos hoje”, explicou Thiago.
Essas raízes remontam ao Brasil colônia e as divisões de terra feita pela coroa portuguesa. De lá para cá, ao longo desses 500 anos, as brigas pelo uso da terra só se intensificaram. “Os conflitos do campo não são uma realidade nova, se perpetuam desde sua história no início da colonização”, afirmou.
“A partir da década de 80 a questão agrária brasileira vai se tornar mais complexa, pois teremos uma gama de grupos brigando pelo direito à terra. A questão é mais que acesso à terra, é acesso à terra e ao território”, comentou.
Há, no Brasil hoje, um conflito contra o agronegócio e nenhum interesse por parte dos poderes públicos de desenvolver uma mínima reforma agrária ou demarcação de terras indígenas. A terra não é só terra de produção é terra de morada e crescimento comunitário.
Para Thiago, tratar desse tema no Curso de Verão, com um público de jovens e de diversos lugares, é fazer ecoar o trabalho da CPT e demais entidades e assim convidar as pessoas para acompanharem essa realidade e perceberem que podem contribuir na luta dos camponeses, indígenas, quilombolas e sem terra.