A – O Curso de Verão tem em sua trajetória, como uma das características principais, a arte. Vemos desde o seu nascimento a preocupação em evidenciar o sentido da arte no centro de sua performance. Podemos até nos divertir copiando um dito popular que
Coro – “O CURSO NÃO NASCEU, ESTREOU”.
G – Meu primeiro contato com o Curso de Verão, como cursista, foi uma revelação. Havia um “que” de mistério naquele espaço de formação e aprofundamento de conteúdo de forma sistemática, reflexiva, e com toques de leveza que só a arte pode oferecer. Essa face artística cria, em quem se aproxima, um fascínio absoluto.
A – Era impactante perceber uma juventude destemida, ousada, vinda dos quatro cantos do país, trazendo seus sonhos, confrontando suas realidades, partilhando seus sentimentos, disposta a contribuir para a construção de um mundo melhor.
G – Essa vontade de se fazer voz, não passava somente por uma necessidade em nível teórico, mas era marcada pelo desejo de uma extensão corpórea, uma experiência que integrasse o ser na sua totalidade. Não só o Brasil inteiro se revelava em performances plenas de energias e criatividades, mas o nosso continente latino-americano. Esse olhar no mesmo palco, as características culturais de cada região, de cada país, abria novos horizontes, confrontando as nossas carências e utopias, revelando nossa alma criativa.
A – O curso trazia em seus painéis, pintados pelos artistas da caminhada, a síntese da reflexão dos conteúdos propostos para cada etapa e traduziam um forte clamor por justiça social. Muito mais do que palavras, a arte estava ali em pleno vigor, fazendo repensar conceitos a partir de outros paradigmas, mostrando a cara de uma realidade brasileira, desconhecida pelas grandes mídias.
G – Bem destacada pelo fundo preto de um teatro, símbolo de um espaço cultural e político de resistência contra a ditadura militar em nosso país, o Teatro da Universidade Católica (TUCA). OLHEM ESSAS PAREDES… MARCAS DE UMA HISTÓRIA de resistência com o sentido mais provocativo da rebeldia de uma arte perseguida porque revoluciona.
A – O celebrar no Curso de Verão, mais que o resgate de uma dimensão mística à luz de uma teologia inquietante, era pleno de simbologia e senso artístico, onde a dança das cores realçava o espaço físico e destacava os corpos acalorados tanto pela temperatura de verão como pela emoção de estar presente numa atuação que mistura utopia, arte e vida.
G – A voz que proclamava, tornava viva, atual e questionadora a palavra de um texto bíblico, ressaltava a esperança, animava as lideranças, um povo sofrido, na difícil caminhada popular. Como é forte o efeito de traduzir num canto, numa poesia, num painel, numa coreografia, numa performance teatral o direito de sonhar uma terra sem as demarcações que aprisionam e destroem o que é essencial!
A – A chama de uma vela na celebração, num contexto pleno de sentido, envolvida por uma atmosfera bem cuidada artisticamente… Era aquela luz que talvez estivéssemos precisando para recuperar nossa energia e seguir em frente de cabeça erguida, com a certeza que a trajetória pode ser difícil, mas a coragem é tamanha, a força é surpreendente, porque o caminho é iluminado. Essa experiência foi sentida na pele.
G – Bebemos juntos a água que acalanta a nossa sede de justiça.
A – Saboreamos os frutos da terra.
G – E os vimos em abundância invadir nosso espaço comum, nos fazendo sentir à emoção de uma terra como alimento para saciar todas as fomes.
A – A música intervinha nas discussões, estabelecendo um paralelo entre os vários conteúdos, destacando as melodias do rico cancioneiro popular brasileiro e de nossos artistas do canto e da música. E o resultado era uma atmosfera de plena energia, com corpos que se movimentavam, dançavam e sonhavam um mundo de alegria, paz e justiça.
G – A arte era presente assim, exuberante, em sintonia com uma juventude arrojada e questionadora, estabelecendo uma relação profunda entre os saberes e as experiências vividas.
A – Era evidente a necessidade de um aprendizado e aperfeiçoamento de talentos artísticos, permitindo que outras expressões fossem contempladas, colocando a arte no foco das discussões, ajudando a aprofundar, dinamizar e traduzir os conteúdos. Assim foram surgindo as oficinas no Curso de Verão, fazendo emergir um grande interesse dos participantes e um verdadeiro dinamismo na estrutura do curso.
G – VOCÊS SABEM QUANDO FOI O PRIMEIRO CURSO DE VERÃO? FOI EM 1988. Ali foi plantada a semente de um Curso de formação pastoral em forma de mutirão,
A – de massa (chegava a ter 1.000 participantes),
G – ecumênico,
A – e, claro, com o desafio: uma metodologia que contemplasse todos esses aspectos.
G – Realizada nos moldes da educação popular, que tem como ponto de partida o conhecimento que nasce da sabedoria das práticas dos grupos populares.
A – Formando sujeitos transformadores da sua própria realidade.
G – O primeiro dia do curso é a escuta das inquietações e experiências trazidas pelos participantes a partir de suas inserções:
A – nos movimentos sociais,
G – nos partidos políticos,
A – nas comunidades de base,
G – sistematizando e tomando-as como saber.
A – A educação popular como educação de classe, está definida num processo de construção de um projeto de sociedade que tenha o ser humano e suas necessidades como centrais,
G – que veja o ser humano como ser politico, social, cultural,
A – e não como máquina de produção e reprodução para capital.
G – Os desafios para essa educação popular e para o ecumenismo foram sendo enfrentados ao longo de sua historia.
Coro – O CURSO DE VERÃO:
G – LUGAR DA ESPERANÇA,
A – DA REFLEXÃO COM ARTE,
G – DO ECUMENISMO,
A – DE DIÁLOGO E LIBERDADE.
A – Uma rede onde se criam laços a partir do respeito às diferenças:
G – Qual é a sua igreja?
A – Qual é a sua religião?
G – O que significa ser congregacional?
A – Ser metodista?
G – Ser pentecostal?
A – Ser de religiões de matriz africana?
G – Pertencer a um movimento de juventude?
A – Ou então às CEBs (Comunidades eclesiais de base)?
G – O que é isso?
Coro – O CURSO DE VERÃO É UM CURSO DE MUDANÇA DE MENTALIDADES.
G – SABE GENTE, o que mais me chamou a atenção no Curso de Verão foi essa experiência de mutirão. Uma palavra da nossa língua portuguesa, com uma riqueza semântica difícil de definir para outros idiomas.
A – Mais do que um simples trabalho coletivo,
G – colocando em comum, sonhos,
A – utopias,
G – forças,
A – experiências…
G – Que levasse em conta todas as dimensões da vida.
A – Mutirão de muitas mãos,
G – muitos pés,
A – muitas cabeças,
G – muitos saberes,
A – muitas cores,
G – de pão, laranjas e bananas,
Coro – E MUITOS AMORES…
A – O trabalho voluntário é organizado em várias equipes onde todos e todas são importantes dentro de sua especificidade para a realização do Curso. Essa lógica do mutirão é bem diferente daquela dominante na sociedade capitalista caracterizada pelo individualismo e pela busca frenética de resultados materiais.
G – E ninguém serve sem um sorriso e um aconchego!
Coro – O CURSO DE VERÃO FOI CONSTRUÍDO, E CONTINUA SENDO REPENSADO, NA DINÂMICA DO MUTIRÃO.
G – Sem o trabalho voluntário tudo isso não seria possível! Cada voluntário/a coloca a serviço do mutirão:
A – a sua experiência de inserção no meio popular e nas comunidades,
G – o seu saber e o seu jeito próprio de ver o mundo.
A – Desenvolvendo o processo formativo, num espírito fraterno e festivo, são realizados quatro encontros anuais, onde o curso é avaliado, planejado, organizado num esforço contínuo. Esse mutirão do Curso de Verão deixa marcas nas pessoas e elas levam com carinho as sementes que irão brotar em cada canto.
G – O Curso de Verão é um projeto de educação popular que se lança para o futuro para renovar nossas experiências,
A – fortalecer nossos sonhos,
G – partilhar nossos saberes,
A – encorajar quem está fora,
G – animar quem está no caminho,
A – disseminar a compaixão, embalar o coração que ama
G – e fazer o novo acontecer no aqui e agora da história.
A – E cada voluntário, voluntária desse mutirão,
G – não é mais um na multidão,
A – tem um rosto,
G – um nome, uma expressão,
A – uma cor, um saber, uma emoção,
G – um sorriso,
A – um abraço apertado
Coro – E UM SONHO DE PAZ!
Equipe do Curso de Verão,
Gratidão por esse trabalho maravilhoso. Tenha as bênçãos de Deus para que esta missão de Educação popular possa cada vez mais chegar a muitas pessoas.
Já participei muitas vezes do Curso de Verão e considero fantástico. Gostaria que todas as pessoas pudessem participar. Este ano eu não participei, mas senti muito a falta e saudades de todos.
Um abraço.
Maria Elizabeth