O terceiro dia do 31º Curso de Verão, 11 de janeiro, foi marcado pela assessoria do prof. Manfredo Araújo de Oliveira*. Ele, que sempre esteve envolvido com a Educação Popular, dá continuidade aos seus trabalhos como professor do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará e é assessor das CEB’s e dos Movimentos Populares.
O tema abordado foi “Cidadania e política: desafios de hoje”.
Manfredo destaca já de início que toda a temática apresentada é uma grande reflexão sobre a vida humana e a sua construção. Era assim que pensavam os gregos ao definir o termo “política”. Originariamente significava que o ser o humano não nasce um ser feito, pronto, é um ser em construção que busca constantemente conquistar o próprio ser. O homem, portanto, “é um ser entregue a si mesmo, ou seja, ele tem que buscar o que há de mais humano na própria vida humana, conquistar a si mesmo”, afirma.
Deste modo, a palavra “política” revela o homem como um ser comunitário, inserido no mundo cultural, histórico, social, etc. Daí a grande questão que nos envolve a cada momento: “Será que nós compreendemos verdadeiramente o mundo em que estamos?”, indagou o assessor ao dizer que se trata de descer ao que está mais profundo e buscar as causas desta realidade. Torna-se então fundamental entender como está configurada hoje a situação histórica em que nós vivemos.
O que está em jogo no capitalismo contemporâneo?
Está em formação uma sociedade mundial. Urge a necessidade de relacionamento entre os diferentes povos da Terra. Há um processo gigantesco de conexão criado por dois mecanismos fundamentais do momento contemporâneo: a economia e a comunicação. A revolução tecnológica na comunicação tornou possível que o mercado e a dimensão do econômico abrangessem pouco a pouco o planeta, de tal maneira que foram postos em situações semelhantes todos os povos e todas as realidades humanas. Essa conexão global é assimétrica, ou seja, nem todo mundo está no meio. A globalização, entendida como “mundialização do capital”, é desconexa porque ela aumentou enormemente a capacidade de produzir e ao mesmo tempo cresceu a miséria, a exploração, a opressão de milhões de pessoas.
Dentre os elementos ideológicos que estão por trás dessas concepções de organização da sociedade, Manfredo destacou o mercado (criado pelos homens, mas que age independente do ser humano). Segundo o assessor, a expansão do capital se transformou na meta suprema da humanidade, gerando a concentração gigantesca de renda, como nunca se teve na história humana; a exclusão social cada vez mais profunda; o aumento das carências na educação, moradia, saúde, cultura; e a degradação ambiental. Toda esta realidade cria a ideia do Estado como sinônimo de ineficiência. Há toda uma forma de apresentar o Estado, assim como a política e as instituições estatais, como sendo fundamentalmente ineficientes e corruptas. Daí por exemplo, a pressão violenta para a redução do Estado e a venda das empresas estatais. Tudo isso tem articulação com os interesses do grande capital, ou seja, Estado deve ser cada vez mais afastado e a política deve se tornar inútil para que o capital possa funcionar eficientemente.
A revolução tecnológica coloca-se a serviço do mercado. Esta nova forma de afirmação do capital criou raízes na sociedade pela revolução do conhecimento, da informática, da comunicação, e inclusive para o controle do processo de trabalho, que hoje também se dá a partir desses mecanismos. Então se juntaram as duas coisas: a revolução tecnológica e a hegemonia financeira do capital passam a comandar todo o processo econômico.
“Trata-se de uma transferência escandalosa do dinheiro do povo para beneficiar os bancos, uma minoria que é capaz de aplicar, com isso sai do horizonte a política de distribuição de renda porque ela torna-se um grande obstáculo”, destacou Manfredo.
* Manfredo Araújo de Oliveira, Doutor pela Universidade de Munique, Alemanha e professor do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará e assessor das CEBs e Movimentos Populares.
Assista, abaixo, a íntegra da transmissão da assessoria de Manfredo Araújo de Oliveira: