“Qualquer ação da Igreja só tem sentido se houver transformação social”, afirmou Dom Sebastião Armando Gameleira Soares no seu segundo dia como assessor do 29º Curso de Verão. Foi na quarta-feira, dia 13 de janeiro, que o bispo anglicano emérito de Recife/PE abordou o tema A Profecia é o Coração da Bíblia: Encontro com Profetas e Profetisas. Já de início ele afirmou que a Bíblia parte de uma constatação concreta, isto é, de alguma maneira Deus se faz presente na vida das pessoas na forma de um valor absoluto que funciona como divindade. Esta ação divina se impõe como valor central da vida e preenche de significado a todos os outros valores que dão sentido à nossa existência.
Destacou que a experiência bíblica tem seu coração no profetismo e para que a liberdade do homem seja preservada e se desenvolva a Bíblia estabelece o Direito ou a Lei como condições para manter a liberdade, a igualdade e a responsabilidade, na pessoa para consigo mesma, com a sua espiritualidade; também no relacionamento com as pessoas; e por fim, com a realidade mais ampla do mundo. Assim, “a profecia aparece como maneira concreta de vigiar para que essas condições sejam cumpridas”.
Só é livre quem ama
Sobre a importância da liberdade, Dom Sebastião deixou claro que a única maneira do ser humano alcançar a sua autonomia é quando ele realiza uma experiência transcendental de ir para além de si. O assessor enfatiza que esta experiência acontece na liberdade, por isso, a liberdade é o lugar onde se conhece a Deus. Também explicou que este transcender para além de si gera um grande paradoxo entre liberdade e obediência. No sentido de que quem obedece sabe inclinar o ouvido na direção da voz: “a experiência humana de Deus se dá quando a pessoa se deixa guiar pela escuta da voz que pede o serviço para que concretize o amor e assim supere a prisão das suas necessidades”.
Conclui dizendo que a liberdade, o amor e a obediência (serviço) são sinônimos. Assim, a liberdade para ser preservada é preciso que haja o máximo possível de igualdade quanto à posse de administração das coisas, ou seja, da relação com o meio ambiente e social.
As duas máquinas de produzir pobres e excluídos
A Bíblia desmascara e revela como está a realidade do povo quanto a estes dois eixos presentes em cada pessoa e na coletividade: o poder e a riqueza. A profecia denuncia sempre o poder sobre as pessoas (opressão) e a apropriação das coisas (injustiça) porque anulam a liberdade. Dom Sebastião os define como “as duas máquinas de produzir pobres e excluídos”. Elas impossibilitam as pessoas de viverem em comunhão e no serviço recíproco. As vontades de poder, de apropriação das pessoas e da riqueza dificultam a vida em comunidade. Entre as pessoas tem que acontecer a reciprocidade, o serviço e a partilha, porque só deste modo seremos humanamente sadios.
É por causa destas situações que os profetas chamam as pessoas para a conversão, a mudarem a direção de seus caminhos. Anunciam sempre que a sabedoria e a força de Deus estão no povo. No entanto, o povo se acomoda e nem sempre tem coragem de se opor. É preciso, então, evangelizar, comunicar a Boa Nova que, para o hoje da profecia, é a mensagem de que o poder e a sabedoria estão no pobre. Esta consciência deve ser partilhada entre todos para que se possa empoderar o povo, fortalecer o poder popular e nos libertar do medo e da covardia.
José Carlos Paz