A Campanha da Fraternidade de 2016 é novamente Ecumênica e tem como tema: “Casa Comum, Nossa Responsabilidade”. Por este motivo o 6º dia do Curso de Verão foi marcado pela assessoria de Romi Márcia Bencke, pastora da Igreja Luterana e que também é secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). A sua palestra foi divida em dois momentos: primeiramente falou-se sobre o inter-relacionamento que o tema da Campanha da Fraternidade provoca diante dos compromissos globalizados, e no segundo momento, sobre o papel social das religiões.
Continuidade de nossa vida no Planeta
Em se tratando da 4º Campanha da Fraternidade Ecumênica a assessora deixou claro que estas iniciativas surgem a partir dos anseios dos movimentos populares, das comunidades de base e que todos os esforços estão em “promover o ecumenismo – juntos, sempre em cooperação com outras organizações – e levar a agenda ecumênica para dentro das Igrejas”. Afirmou também que o ser humano ao refletir sobre o tema “Casa Comum, Nossa Responsabilidade”, automaticamente identifica as interdependências existentes e que acabam influenciando na sua própria compreensão missionária e na sua espiritualidade, justamente por que este tema tem a ver com a própria existência e continuidade de nossa vida no Planeta.
Todas as reflexões presentes no texto base da Campanha têm por objetivo fomentar o debate sobre questões pertinentes como saneamento básico, desenvolvimento, saúde integral e qualidade de vida. Por este motivo, enfatiza Romi Bencke, o lema bíblico “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, extraído do capítulo cinco do profeta Amós, reflete a esperança utópica de que lutar pelo direito ao saneamento básico automaticamente significa qualidade de vida, terra que produz frutos e pessoas mais saudáveis.
A assessora comentou sobre a conexão imediata que ocorreu com a Encíclica Laudato Si do Papa Francisco e a Campanha da Fraternidade. Se na primeira há um alerta sobre os males do planeta e apresenta a ecologia integral como um novo paradigma de justiça, na segunda o cuidado com a casa comum, principalmente diante das mudanças climáticas, torna-se um problema de toda humanidade. Assim, é imprescindível entender que “não se pode abordar o tema das mudanças climáticas sem assumir as obrigações dos Direitos Humanos”. Tudo isto demonstra que o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica se inter-relaciona com os temas e compromissos globalizados e também está conectado às grandes discussões de como criar estratégias para que o planeta Terra seja cuidado e protegido.
Recuperar a dimensão da Responsabilidade
Quando se fala do cuidado com a Casa Comum, as religiões têm um papel fundamental de provocar e questionar os interesses e valores que orientam a Terra. Possuem a grande missão de formular as perguntas essenciais sobre o modo de como a humanidade estabelece a relação com o lugar em que habita. Romi Bencke explica que as religiões desempenham um papel importante quando elas conseguem fazer a crítica ao sistema. Assim como o profeta Amós que critica o sistema religioso da época, a Campanha da Fraternidade também, para ser coerente com a própria ação profética, precisa fazer a crítica ao papel das religiões nos dias de hoje.
Questiona a assessora: “Quais os valores que nos orientam e que são coerentes com a nossa prática religiosa? Na grande maioria das vezes são os valores do mercado que sabem fazer muito bem o uso de valores religiosos”. Com o crescimento do fundamentalismo religioso – o discurso de Deus para deslegitimar o outro ou justificar a exploração -, percebe-se que a fé em Deus já não está mais orientando o convívio social. Não há mais coerência entre prática religiosa e o comportamento ético. Ocorre, então, uma distorção do papel social da religião.
Recuperar a dimensão do compromisso e da responsabilidade é fundamental para que o ser humano reconheça as obrigações em relação aos seres vivos e assuma interesses e valores que orientam a vida na Terra.
José Carlos C. Paz