Goiás – GO, 06 de maio de 2014.
Caros Irmãos no Episcopado
Escrevo-lhes para compartilhar com todos os momentos de graça que vivi nestes dias em torno à Páscoa de nosso querido Dom Tomás Balduino.
As pessoas que o acompanharam nos dias em que esteve internado, e eu mesmo o comprovei numa visita que fiz a ele, do interesse e da vontade que tinha em participar desta 52ª Assembleia da CNBB. Os que estavam com ele na noite em que faleceu me relataram que até poucos momentos antes da morte queria de alguma forma dar sua contribuição ao documento “A Igreja e a Questão Agrária”. Desejava telefonar, pediu para que lhe trouxessem um computador móvel para ditar uma mensagem. Estava em profunda sintonia com esta Assembleia. O frade dominicano que esteve mais perto disse que Dom Tomás, até o último momento esteve lúcido, sereno e bem humorado.
As notícias da sua morte se espalharam mundo afora e de todos os lados pipocaram mensagens ressaltando a importância da sua figura e o que ele representou para a Igreja e a sociedade.
Houve uma bonita celebração no domingo pela manhã, em Goiânia. Esteve presente o bispo Anglicano de Brasília, Dom Mauricio Andrade que ressaltou a abertura ecumênica de Dom Tomás.
Mas o que marcou mesmo as celebrações foi a presença dos movimentos camponeses e indígena.
Indígenas Krahô, Apinagé, Karajá, Xerente, do Tocantins, Tapuia, de Goiás, e Tapirapé, de Mato Grosso, celebraram rituais ao redor de seu corpo quando chegou à catedral de Goiás, fizeram no seu rosto uma pintura indígena, e na cabeceira do caixão colocaram um cocar indígena. Emocionados falaram da importância de Dom Tomás para sua luta, do apoio que sempre prestou. Uma indígena pediu em alto e bom som que a Igreja continue junto a eles como Dom Tomás que nunca os deixou. “Não deixem a gente sozinhos”, disse ela.
Praticamente não faltou a presença de nenhum dos movimentos do campo. Suas bandeiras diziam da importância da Igreja, representada na pessoa de Dom Tomás, para as suas lutas, para a defesa dos seus direitos, para a conquista da terra. Suas palavras emocionadas ressaltavam que o legado de Dom Tomás continuará presente, que a morte de Dom Tomás é mais um impulso para a continuidade de suas lutas.
Na celebração eucarística final Dom Enemésio, bispo de Balsas, MA e presidente da CPT, representou a todos os senhores que continuam em Assembleia. Presentes estavam também os bispos eméritos, Dom Antônio, de Goiânia e Dom Celso, de Itumbiara. Dom Almir, bispo emérito Anglicano, e o bispo Raimundo Aires, da Igreja de Cristo participaram da eucaristia. Algumas dezenas de padres concelebraram, representando os bispos do Centro-Oeste e outras dioceses.
A CPT e o CIMI ressaltaram que a vida e o compromisso de Dom Tomás com a causa indígena e dos camponeses ajudarão a reavivar a vontade de continuar sendo a presença evangélica junto aos excluídos e excluídas.
Dom Enemésio, na sua fala, pontuou que Dom Tomás viveu o que o Papa Francisco prega, de a Igreja sair das sacristias, estar presente nas periferias existenciais. Ele observou que somente três ou quatro, das quase 50 coroas de flores, eram de instituições ligadas à Igreja, as demais eram de movimentos, associações, sindicatos, entidades políticas. Eram o sinal do fermento do Evangelho na sociedade.
Estou em comunhão com os senhores nestes dias que a Assembleia votará o documento “Igreja e a Questão Agrária”. Muitos esperam que a voz profética da Igreja, que marcou tão profundamente a vida de Dom Tomás, continue produzindo frutos de justiça e de solidariedade no meio de nós.
Em comunhão fraterna!
Dom Eugênio Rixen
Bispo de Goiás