O 12º Encontro Nacional de Fé e Política foi realizado em Belo Horizonte–MG, de 5 a 7 de abril de 2024, com o tema “Espiritualidade Libertadora: encantar a política com arte, cultura e democracia”.
Estiveram presente pelo CESEEP: Marco Aurélio (coordenador administrativo do CESEEP) e Nilda Asis Cândido (coordenadora de cursos).
Leia abaixo, o artigo escrito por padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB
Reprodução CNBB
Muitos cristãos resistem e criticam, quando veem associadas as palavras fé e política. Ainda há uma postura de desconfiança e rejeição à política, entendida de forma redutiva como jogo de poder na disputa entre partidos, frequentemente corruptos.
O Papa Francisco tenta reconquistar os corações dos fiéis, escrevendo sobre “a política melhor” (Fratelli Tutti, n. 154), construída na participação dos poetas e das poetizas sociais, que sonham e constroem uma cidadania inclusiva, inspirada na justiça e no cuidado da Casa Comum.
Em paralelo, no mundo inteiro, o oportunismo populista compreendeu que a religião é um dos veículos mais eficazes para disputar a alma das pessoas, contaminá-las de medo e oferecer a elas a segurança e o rigor de posições fundamentalistas e intolerantes. Neste caso, associar fé e política não só é legítimo, mas também necessário, para controlar o poder.
Desde 1989, o Movimento Nacional de Fé e Política no Brasil acredita na dimensão política intrínseca aos Evangelhos e na práxis transformadora do exemplo de vida de Jesus Cristo. É neste espírito que convocou em Belo Horizonte, de 5 a 7 de abril de 2024, o 12º Encontro Nacional de Fé e Política, com participação de cerca de duas mil pessoas, de todos os cantos do Brasil.
Foi uma festa de reencontros, um entrelaçamento de partilhas e projetos, uma celebração da resistência e da esperança. “A esperança tem duas irmãs mais novas: a indignação e a coragem”, comentava Santo Agostinho. Ao retomar estas palavras, Leonardo Boff convidou todas e todos os participantes a não apagar a indignação, não se deixar resignar pelo torpor da acomodação, e assumirem a coragem da transformação. Cada vez mais urgente, devido à crise climática, ambiental, social e ética que estamos atravessando, neste tempo de colapso de um sistema capitalista que mata, exclui e discrimina.
Uma espiritualidade libertadora tem a força de “Encantar a Política com Arte, Cultura e Democracia”, como dizia o lema do encontro. A espiritualidade, de fato, esteve à base dos três dias, numa dimensão ecumênica e inter-religiosa, com o protagonismo das mulheres, a presença viva das igrejas-irmãs protestantes, das religiões afro e dos povos originários.
“Espiritualidade é o jeito de ser de nossos corpos. Únicos, coletivos, integrados (porque somos corpos também junto às plantas e aos bichos). Atravessados pelas dores e a abundância da festa. Corpos que não cabem em si, que buscam sempre se superar, em transcendência” – comentou a pastora luterana Luzmarina Campos Garcia.
Corpos que buscam se relacionar com o “Pai-Nosso”, que é também nossa Mãe, enquanto conseguem repartir o “Pão Nosso”, a cada dia – acrescentou Frei Betto.
Assim, em busca de traduzir a espiritualidade em práticas de justiça e misericórdia, celebrando o Domingo da Divina Misericórdia, a plenária dividiu-se em grupos temáticos de estudo, partilha e compromisso. Foram aprofundados diversos temas, como educação popular, bem viver e decrescimento, eleições municipais, cultura popular, capitalismo de rapina e emergência climática, opção pelos pobres em Jesus e na Igreja, combate ao racismo, promoção da paz, arte para a transformação cultural.
A arte, de fato, teve um papel preponderante, inspirador: “ela é irreverente, ela põe a alma do povo para dançar” – arrematou Zé Vicente.
O 12º Encontro realizou-se no tempo de Páscoa e uma luz de vela brilhou o tempo inteiro, na frente do palco, a nos lembrar a Ressurreição de Cristo, que é de certa forma a insurreição de todas as forças inconformadas que rolam as pedras dos sepulcros, atravessam as portas fechadas, empurram a Igreja para sair de si.
Saímos todas e todos do Encontro com compromissos e muito trabalho, porque a práxis libertadora exige também disciplina e organização. Os passos mais urgentes são o percurso formativo “Encantar a política” e a ação coletiva “Mutirão pela Democracia”, em vista das eleições municipais deste ano. Um instrumento de formação belo e instigante é a Revista Casa Comum, disponível tanto online como em formato impresso, para quem a queira solicitar.
Sim, é esta a “política melhor”: aquela que sonha, não se deixa sufocar por interesses mesquinhos, conquista corações e nos coloca, hoje e sempre, no movimento da ressurreição dos corpos, humanos, sociais e coletivos!