CARTA ABERTA ÀS COMUNIDADES
São Paulo, 02 de setembro de 2019.
Carta 01: Educação Popular na Ação Pastoral
Amigas e amigos
O Curso Latino Americano de Formação Pastoral, organizado pelo Centro Ecumênico de Serviços à
Evangelização e Educação Popular – CESEEP (São Paulo – Brasil) teve, neste ano, como tema de
estudo e debate: Manipulação das Mídias no Contexto Urbano: um desafio pastoral, político e
social. Os participantes são agentes de diferentes pastorais e projetos sociais do Brasil, Bolívia,
Chile, Cuba, Equador, Indonésia, México e República do Congo.
Na primeira etapa do curso, foi trabalhada a Partilha das práticas: conceitos e experiências, como
parte da Metodologia da Educação Popular. Isso nos propiciou conhecer melhor as práticas
pastorais e sociais de cada participante do curso e nos ajudou a refletir sobre tais práticas.
A apresentação do contexto sócio-político-econômico-eclesial/ecumênico de cada país presente
no curso ofereceu a base para o conhecimento das diferentes realidades e foi o ponto de partida
para a Análise de Conjuntura Latino-americana, caribenha e congolesa.
Tivemos a possibilidade de refletir sobre os conceitos de estrutura x conjuntura. A estrutura é o
que permanece ou muda mais lentamente e articula a sociedade em nível macro. Dentre os
elementos que compõem a estrutura da sociedade destacamos a economia, a demografia, as
mídias, as migrações, cultura, gênero, etnia etc. A Conjuntura volta-se para a mutante correlação
de forças entre os diferentes atores sociais e políticos. Pode ser mais intensa durante períodos de
crise, campanhas eleitorais, trocas de governo. É a fotografia do momento histórico recente, com
análise dos fatos, dos acontecimentos e com possibilidades e perspectivas que se abrem, a partir
desta análise. A interpretação da história pode ser elaborada a partir de duas linhas mais visíveis.
De um lado, a análise de conjuntura, em que emergem momentos de ruptura e abrem-se
oportunidades para se rever a estrutura do sistema, e de outro, a visão mais ampla em que se
busca compreender os ciclos que se dão no país e dentro de um contexto continental e mundial.
A análise de conjuntura indicou que estamos vivendo uma espiral de regressão na história da
sociedade em relação à educação política e cidadã dos sujeitos. Os processos em curso na América
Latina, no Caribe e na África têm semelhanças e diferenças nos vários setores da sociedade. O
processo de ativismo é histórico, privilegiando a prática efetiva de transformação da realidade.
Existem várias causas e tendências, com destaque para o modelo econômico extrativista. É um
grande desafio para a sociedade civil encontrar uma forma de organização em conjunto, para a
superação do atual modelo global no social e no econômico.
A análise de conjuntura em tempos de “guerras híbridas” é uma tentativa de decifrar o sentido
profundo do que está acontecendo na sociedade atual. Dentre os pontos relevantes de caráter
estrutural, destacou-se o sistema de vida na terra, o mundo com seu modo de produção e o
sistema político dos países da América Latina, Caribe e África.
Há uma relação estreita entre Educação e Sociedade, caracterizada pelas práticas pedagógicas
vigentes nas instituições de ensino e pelos desafios a serem enfrentados pela Educação. Nos
governos comprometidos com a transformação social, há uma concepção político-pedagógica e
ética de organização baseada em Paulo Freire, cuja pedagogia defende o diálogo como método de
apreensão do conhecimento e aumento da consciência cidadã.
Para a Educação Popular, a concepção pedagógica freiriana reconhece e respeita o conhecimento
popular como ponto de partida para os processos educativos. Este processo educativo tem como
um de seus fundamentos o diálogo e a relação entre as práticas e o conhecimento teórico na
construção coletiva de saberes, inclusive entre educandos/as e educadoras/es. Nesta concepção
pedagógica, reconhece-se a diversidade de religiões, de gênero, de etnias e de práticas intra e
interculturais. O ser humano é inconcluso e inacabado. Ensina e aprende sempre, especialmente
acerca de valores como solidariedade, humildade, amorosidade, generosidade, respeito e
tolerância às diferenças.
Estes valores são objeto de estudos e são vivenciados nas ações pedagógicas e políticas, seja nas
escolas e nas igrejas, seja nos movimentos sociais e na sociedade civil organizada. As chaves ético-
político-pedagógica da educação popular são o registro, as vivências e experiências na diversidade
e a sistematização das práticas, numa perspectiva libertadora. O pensamento de Paulo Freire
requer diálogo permanente, busca de consciência crítica nas ações e práticas pedagógicas
cotidianas, reconhecimento da dignidade das pessoas, respeito aos valores e defesa da vida.
Os estudos e debates sobre Educação Popular (incluindo a Partilha de Práticas e a Análise de
Conjuntura e) contribuem para as práticas pastorais e sociais, no sentido de ampliar o olhar diante
do contexto pastoral, social e político de forma integral, na dimensão local e global dos fatos, com
metodologia dialógica e tendo presente a realidade cotidiana de cada pessoa.
Assim, compreendemos que se faz necessário retomar os estudos sobre Educação Popular e sua
vivência na ação pastoral e social. O trabalho de todos nós, agentes pastorais e sociais, é
fundamental para a compreensão e transformação da realidade na construção de um mundo mais
justo e igualitário.
Curso Latino Americano de Formação Pastoral / 2019. CESEEP
Equipe de sistematização da Carta1: Brasileiras e congolesa com nomes sublinhados na lista de
participantes (abaixo).
1. Escrever Cartas abertas às comunidades é uma estratégia de sistematização e divulgação dos
temas tratados no Curso Latino-americano de Formação Pastoral 2019. A partir de apontamentos
individuais dos/as participantes sobre cada tema, uma comissão elabora a carta e esta é revista
por todo o grupo, que traz complementos e sugestões para a elaboração final da carta aberta.
Cursistas 2019: Rober Galo Condori Machicado e Romulo Mamani Vilca (Bolívia), Cecilia Margarida
Martinelli, Ivania Fátima Costacurta, Maria Adinete Azevedo, Marilene Thomé, Marise Inez Piccoli
e Maura Maria Venzon (Brasil), Miguel Angel Ahumada (Chile), Emeregildo Reinaldo Garcia Blanco
e Yandry Fernández Perdomo (Cuba), Edgard Adalberto Pinus Savala, Pablo Osvaldo Torres
Alvarado e Raul Eduardo Usca Santilla (Ecuador), Wilfridus Ribun (Indonésia), Ana Edith García
Félix e José Martín Peña Costa (México) e Puri Mafikene Marlene (República do Congo).