Um novo estudo revela a origem da violência direcionada às pessoas LGBTI+, examinando o impacto do discurso fundamentalista religioso em famílias e suas ramificações – políticas, sociais e culturais – na sociedade como um todo.
No Brasil, a maioria da população é cristã, representando 86,8% dos lares brasileiros, de acordo com o Censo de 2010. No entanto, o modo como essa cultura é vivenciada no dia a dia e o aumento dos discursos de ódio contra a população LGBTI+ nos últimos quatro anos foram os pontos de partida para um estudo ousado e cuidadoso que explora como a religião permeia esse debate.
O livro “Semente de Vida: rejeição e aceitação de filhos/as/es LGBTI+ em lares cristãos” é uma obra fundamental e necessária para todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou crenças religiosas. O livro reúne uma diversidade de vozes, incluindo pais, mães, cuidadores, filhos e especialistas de diversas áreas, como teologia, saúde mental, ciências políticas, família e estudos comunitários. Através de horas incansáveis de pesquisa e entrevistas, a obra expõe a origem do ciclo de exclusão e violência que muitas pessoas LGBTI+ enfrentam em suas vidas, frequentemente começando dentro de casa, impulsionado por discursos cristãos fundamentalistas.
Os co-autores do livro representam essa diversidade e engajamento. Gut Simon, um comunicador social bissexual, homem cisgênero e católico, possui vasta experiência em advocacia, mobilização e comunicação de causas sociais. Ana Ester, uma jornalista, teóloga, mestra e doutora em Ciências da Religião, se identifica como pessoa lésbica e cisgênera e é clériga ordenada pelas Igrejas da Comunidade Metropolitana e co-chair na Global Interfaith Network. Bob Luiz Botelho, um reverendo pela Iglesia Antigua de las Americas, se identifica como gay, cisgênero, teólogo, geógrafo, pesquisador em diversidade e cofundador do Evangélicxs Pela Diversidade. Tania Afonso, mestre em Linguística e doutora em Educação pela UFMG, é mulher cisgênera e heterossexual, mãe de uma criança arco-íris de nove anos de idade. Além dos autores, o livro também apresenta artigos inéditos de diversos especialistas, como Allie Terassi, Bruna Galvão, Coraci Ruiz, Cris Serra, Flávio Conrado, Gabriella Morena, pastor Julio Oliveira, pastora Odja Barros e Silvia Kreuz.
Angelica Tostes, teóloga e integrante do CESEEP, fez parte do Conselho Editorial juntamente com Caê Vasconcelos, Leandro Ramos e Tião Guerra.
Esses especialistas contribuem com suas perspectivas e experiências em áreas como psicologia, antropologia, teologia, mobilização comunitária e linguística, enriquecendo ainda mais a discussão sobre a rejeição e aceitação de pessoas LGBTI+ em lares cristãos. A obra é um chamado para que a sociedade seja mais inclusiva e acolhedora, independentemente de crenças ou orientações sexuais.
Apesar de não ser um projeto religioso, o livro apresenta um apanhado de vozes de lideranças, coletivos e organizações comprometidas em anunciar uma visão amorosa de Deus, que celebra e afirma a diversidade. Para Gut Simon, a busca de famílias cristãs pela “cura gay” em templos, igrejas e consultórios terapêuticos, somados ao crescimento do mito da “ideologia de gênero” propagado pela extrema direita no Brasil em detrimento dos esforços da sociedade civil de acolher jovens LGBTI+ expulsos de casa sem respaldo de políticas públicas, são sinais de que não há tempo a perder. “’Semente de Vida’ foi atrás da raiz da LGBTfobia. É preciso olhar para este cenário e entender que o que acontece na família se reflete na sociedade, e vice-versa. Precisamos com urgência ecoar uma nova visão de Deus, em defesa da justiça social e da dignidade humana. Não há uma única forma de ser “família cristã” no Brasil. Para quem busca educar os filhos à luz da Bíblia, alguns textos, se observados de forma fundamentalista, resultam em ‘verdades bíblicas’ que desconsideram o que a Ciência e os marcos regulatórios de Direitos Humanos já dizem sobre às diversidades sexual e de gênero”, diz o comunicador social, idealizador e co-autor do livro, Gut Simon.
Podemos dizer que é uma obra de extrema relevância para a compreensão do cenário atual de violência e exclusão enfrentado pela população LGBTI+ no Brasil. O estudo corajoso e cuidadoso realizado pelos autores e colaboradores da publicação permite uma reflexão profunda sobre como o fundamentalismo religioso é uma das raízes da LGBTfobia em nosso país. Além disso, o livro é uma leitura necessária para todas as pessoas, independente de sua orientação sexual ou crença religiosa. Afinal, a questão da aceitação e do respeito à diversidade é um tema fundamental em qualquer sociedade que busca ser justa e igualitária.
A obra apresenta uma ampla gama de perspectivas, tanto de especialistas em áreas como teologia, saúde mental e ciências políticas, como de pessoas LGBTI+ e seus familiares. Essa diversidade de vozes permite uma compreensão mais profunda e completa da questão, mostrando como a exclusão e a violência começam muitas vezes dentro de casa, impulsionadas por um discurso cristão fundamentalista.
Portanto, “Semente de Vida” é um livro que deve ser lido por todas as pessoas que buscam entender e combater a LGBTfobia em todas as suas formas, bem como por aqueles que desejam construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todas as pessoas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
O livro “Semente de Vida: a rejeição e a aceitação de filhos/as/es LGBTI+ em lares cristãos” já está disponível para compra no site da Editora Saber Criativo.