Dando sequencia as entrevistas com os palestrantes do 30º CURSO DE VERÃO: “EDUCAR PARA A PAZ EM TEMPOS DE INJUSTIÇAS E VIOLÊNCIAS”, que acontecerá de 6 a 14 de janeiro de 2017, no TUCA (teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O Ceseep entrevistou a professora Magali do Nascimento Cunha. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Magali é professora na Universidade Metodista de São Paulo e autora de “A explosão gospel. Um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil” (Rio de Janeiro: Mauad, 2007).
No Curso de Verão a professora Magali falará sobre “Mídia e violência”.
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Ceseep – Qual a importância de, em tempos como os que vivemos, educar as pessoas para a paz?
Magali do Nascimento Cunha – Vivemos em um tempo de explicitação das diferentes formas de violência, que não passam pela mais expoente que é a física, mas também pela racial, a social, a de gênero, e a psicológica e a simbólica, que são formas mais veladas. Nunca foi tão urgente o tema da paz. E a paz não se impõe com projetos ou até com as chamadas “forças de paz” seja de exércitos ou da polícia. A educação é fundamental para levar à reflexão, ao reconhecimento dos atos de violência que estão dentro de casa, nas escolas, nas igrejas, e, claro, nas ruas e nos governos. A reflexão é importantíssima para a revisão de atitudes e para ações coletivas de transformação do quadro dramático que estamos vivendo, assim as pessoas podem ser inter-ativas e produzir narrativas críticas e respeitosas, que não sejam meras repetições do que é recebido.
Ceseep – Na sua exposição falará sobre “Mídia e violência”, como se insere essa questão na sociedade nos dias atuais?
Magali do Nascimento Cunha – As empresas de mídia acabam potencializando o contexto de violência a que estamos inseridos na mistura da dimensão político-ideológica (transmitem o que desejam para defender suas crenças, convicções) com a dimensão econômica (transmitem o que desejam para captar público e lucrar). Por isso colocam a violência como um objeto a ser enfatizado, porque a violência atrai o interesse do público e atrai lucro. A violência é, então, espetacularizada, naturalizada e banalizada e, com as mídias sociais, torna-se verbalizada com a linguagem agressiva e intolerante. É urgente reconhecermos isto e trabalharmos pela humanização das mídias na superação deste quadro.
Ceseep – A que tipo de violência a mídia expõe seus expectadores?
Magali do Nascimento Cunha – Na criação de bodes expiatórios que reforçam o sentimento de insegurança, terror e medo (a imagem do Islamismo, por exemplo, ou do peso a crianças e adolescentes no crime no Brasil), na espetacularização de casos de assassinatos, sequestros e assaltos nas grandes cidades, na ênfase na violência física como solução em narrativas de entretenimento (filmes, novelas). Estes são alguns dos muitos exemplos.
Ceseep – A mídia reforça o discurso de que bandido bom é bandido morto?
Magali do Nascimento Cunha – Sim, na forma como o noticiário é construído e na forma como talk-shows tratam superficialmente destes temas. Recentemente uma enquete no programa da Rede Globo, Encontro, da jornalista Fátima Bernardes, sobre quem deveria ser salvo primeiro, um bandido ou um policial ferido numa ação, provocou debates nas mídias sociais que só fizeram reforçar esta ideia. Estas abordagens só acirram o sentimento de vingança e de linchamento que estão nas pessoas inseguras e com medo.
Ceseep – A democratização da mídia seria um ponto importante para combater a violência a qual é exposto o telespectador?
Magali do Nascimento Cunha – Por certo, comunicar e educar por uma cultura de paz, superando a violência, é denunciar todas as formas de violência presentes nas mídias e trabalhar pela humanização delas mesmas, a começar pelos produtores de conteúdo. É trabalhar pela des-concentração do domínio político-econômico e cultural dos processos; pela facilitação do uso pleno das mídias, por todas as pessoas em todos os lugares; por condições justas de acessibilidade.
Comunicar e educar para a paz com justiça nestes tempos é trabalhar também na formação de um público humanizado, que busque aquisição de conhecimento que valorize a diferença e a tolerância.