O 6º dia do Curso de Verão 2023 contou com assessoria de Antônio Gomes Barbosa, mestre em agroecologia e coordenador da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro). O organismo une redes focadas em políticas públicas que promovam a convivência do ser humano com o clima semiárido, presente no Nordeste do país e no norte de Minas Gerais. Barbosa lembrou como a seca afeta a vida das pessoas. “Para cada seca, a gente tem uma calamidade humana, uma quantidade grande de animais perdidos, de lavoura perdida. Temos pessoas perdidas, sobretudo crianças e mulheres”, afirmou aos cursistas durante a transmissão da assessoria pelo YouTube.
O mestre em agroecologia afirma que a redemocratização do país, com o fim da Ditadura Militar (1964-1985), permitiu que o assunto voltasse a ser debatido. Um dos problemas na região do semiárido é a falta de espaço para armazenar água. É comum que os moradores da região se unam para sobreviver à seca no dia a dia. Um exemplo consiste na experiência dos grupos católicos conhecidos como CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), focados em discutir problemas sociais. “A gente vai construindo o que chama de uma política de convivência com o semiárido”, explica.
Barbosa avalia que a transposição do Rio São Francisco não foi uma solução ambiental adequada. “A transposição tem um erro fatal. A água é muito cara. Não rega as cidades que precisam de água. Existe outras soluções mais simples. Falava-se sobre a necessidade de fazer adutoras (canalizações vindas de estações de tratamento) para abastecer, gastou-se muito dinheiro (com a transposição). A transposição está no imaginário como uma grande solução. Só o semiárido tem 1 milhão de km², (equivale) à Alemanha e à França juntas. A transposição passa apenas em alguns lugares”, avalia.
Os cursistas também contaram com a assessoria de André Rocha, coordenador de projetos do Eixo Clima e Água do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada). A ONG (Organização Não Governamental) foi criada há 30 anos e está situada na cidade de Juazeiro (BA). Defende a convivência com o semiárido brasileiro e que sejam encontradas soluções eficazes para o problema da seca que respeitem as características do povo e das terras do semiárido.
O especialista analisa que a tecnologia deve ser utilizada para enfrentar a seca, mas faz ressalvas. “A tecnologia é importante, é necessária, mas de nada adianta se a gente não tiver a base comum, muitas famílias não têm sequer onde fazer uma casa. Às vezes, tem uma casa, mas está grudada no vizinho e não tem espaço para fazer uma cisterna. Se tem a casa e a cisterna, não tem onde plantar e criar os animais”, lembra. “Terra e água são a estrutura mínima (para se viver). A tecnologia precisa vir como instrumento como meio de transformação do pensamento, da consciência do que é de direito, do que é necessário para uma vida em acordo com as condições climáticas”, defende.
Rocha relata que uma melhor convivência do ser humano com o semiárido, nas últimas três décadas, permitiu que fossem eliminados saques em mercados, migrações em massa e a morte por fome e por sede de milhares de pessoas. “Isso é o maior legado do trabalho de educação popular a partir dessa perspectiva”, afirma.
Lembretes
O coordenador-geral do CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular), José Oscar Beozzo, iniciou o 6º dia de transmissão com a avaliação de que se tratava de uma data importante. Tomaram posse Sonia Guajajara e Anielle Franco, respectivamente, como as novas ministras dos povos originários e da igualdade racial. Beozzo classificou a cerimônia em Brasília (DF) como um acontecimento que deve resultar em mais protagonismo para os povos indígenas e para as mulheres no país. Também lembrou que a Funai, após a edição da MP (Medida Provisória) 1.154 em 1º de janeiro, teve o seu nome mudado de “Fundação Nacional do Índio” para “Fundação Nacional dos Povos Indígenas”, como uma forma de reconhecer a diversidade dos povos originários existentes no país.
A transmissão teve início com a música “Tudo está interligado” do padre Cireneu Kuhn, criada em homenagem a encíclica papal “Laudato Sì”, relacionada à preservação da natureza e à consciência da vivência coletiva no mundo. Os cursistas contaram com momentos de mística conduzidos pelas monitoras Vera Lopes, Maria Maranhão, Zezinha Menezes e Lurdinha Paschoaletto. Foi exibido, por exemplo, o vídeo que abordou como os povos indígenas enxergam o mundo: como algo coletivo e sem divisões entre as pessoas, ao contrário do homem branco.
Beozzo também anunciou que o teólogo Leonardo Boff e o vigário episcopal da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, Júlio Lancelotti, irão realizar uma palestra sobre a fome, no dia 30 de janeiro, em São Paulo (SP). O evento irá ocorrer na Livraria Paulinas, no bairro da Vila Mariana, e o formulário de inscrição ainda vai ser divulgado. O coordenador-geral também agradeceu o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pelo custeio de bolsas para cursistas conseguirem participar neste ano do Curso de Verão.
As transmissões do Curso de Verão 2023 têm falado aos cursistas sobre os pilares do curso. No 6º dia, foi a vez da monitora Zezinha Menezes abordar o pilar do “Cuidado”. “O cuidado é inerente ao ser humano. O ato de cuidar e ser cuidado perpassa toda a nossa vida. A ação de cuidar significa preservar, apoiar, tomar conta, ajudar os outros. Portanto, é zelar pelo bem-estar das pessoas que estão em torno de nós. Vai desde o cuidado com o corpo, com a nossa saúde, mas também com o bem-estar das outras pessoas. O cuidado com as coisas que nos cercam, com o ambiente, com o planeta. É algo que se oferece na gratuidade. Por isso é importante saber primeiramente cuidar da gente para tentar oferecer ao outro um cuidado com qualidade”, lembrou.
Arthur Gandini
Equipe de Comunicação
Assista ao 6º dia de assessorias no Curso de Verão: