Leonardo Cerisoli*
Que os gemidos do Espírito façam nascer em nós a disponibilidade para vos servir fielmente, para que possamos ouvir e curar a Criação, para esperançar e agir junto com ela, para que floresçam as primícias da esperança.
(Oração do Tempo da Criação 2024)
A oração de São Francisco de Assis, “Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas”, é uma das motivações para que igrejas cristãs do mundo todo se unissem em oração e ação pelo cuidado de nossa mãe Terra. Este é o Tempo da Criação, um movimento ecumêmico, que acontece anualmente e que reúne cristãos e cristãs em um momento de reflexão sobre a Criação e como ela se origina na amorosidade de Deus.
Todos os anos, desde sua origem, o Tempo da Criação propõe a reflexão de uma temática em específico. Em 2024, o tema proposto é “Esperançar e agir com a Criação”, que é acompanhado pelo símbolo “As primícias da esperança”, e tem como fonte de reflexão teológica o texto de Romanos 8,19-25.
O Tempo da Criação é aberto no dia 1º de setembro, dia em que celebra-se a Festa da Criação, e encerra-se no dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, considerado o “padroeiro da ecologia” por muitas denominações cristãs. Por isso, neste dia 1º de setembro, todos e todas são convidados a estarem em comunhão com a abertura deste importante momento de reflexão e de articulação pela defesa da Casa Comum.
A iluminação bíblica nos aponta que a criação inteira sofre dores de parto (Rm 8,22). A criação “geme” devido às ações movidas pelo egoísmo, exploração e individualidade humanas, que produzem práticas que não se relacionam com a Criação como um grande presente de nosso Criador, mas como um simples produto a ser utilizado. Mas a Criação encoraja a humanidade através da esperança. Na espera por um futuro melhor. Porém, é claro que, esta esperança não se trata somente de esperar passivamente pela mudança, mas requer mobilização, ação e luta por outra forma possível de relacionamento com a Mãe Terra.
A atual conjuntura aponta inúmeros desafios relacionados à questão da Casa Comum: crise climática, poluição do ar, extinção de espécies, degradação do solo e perda da biodiversidade, além do sofrimento de pessoas, sobretudo daqueles e daquelas que estão em situação de marginalização. Diante disso tudo, resta um caminho possível: a esperança ativa, concreta e transformadora. Por isso, também provoca o cardeal e poeta José Tolentino Mendonça:
O amor é o caminho que nos leva à esperança. E esta não é uma espécie de consolação, enquanto se esperam dias melhores. Nem é sobretudo expectativa do que virá. Esperar não significa projetar-se num futuro hipotético, mas saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, e por aí fora.
Neste lugar é que está uma das grandes missões da humanidade: olhar para aquilo que não se vê – ou não se quer ver –, e produzir ações concretas que gerem transformações em suas realidades. É neste sentido, portanto, que todos os cristãos e cristãs são convidados e convidadas a envolverem-se, de maneira esperançosa, no Tempo da Criação de 2024. A partir desta grande e bonita articulação, o convite se lança para que se ampliem as redes e se fortaleçam os laços na defesa da vida de todas as criaturas.
A esperança possibilita a superação do conformismo e do desânimo. Ela também é dádiva de Deus e permite a reinvenção das possibilidades de vida, e de um mundo onde todas as criaturas possam bem-viver. Que o Tempo da Criação de 2024, a partir de sua proposta de reflexão, produza este grande mutirão de esperança e de ação na defesa da vida na Terra, nossa irmã e mãe.
Para materiais sobre o Tempo da Criação:
Saiba mais visitando o site: TEMPO DA CRIAÇÃO
Você pode acessar o eBook do Curso Latino-Americano de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso de recursos litúrgicos sobre Ecojustiça AQUI
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Leonardo Cerisoli, articulador das Pastorais Sociais da Diocese de Chapecó.
Membro da Pastoral da Juventude e do CNLB. Participante do Curso Latino-Americano de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso 2024.