Mensagem de Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM (Dom Beto) bispo da Diocese de Juazeiro – Bahia acerca dos criems em Mariana e Brumadinho
Dito isso, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego” (João 9,6)
Nestes dias estamos na Arquidiocese de Mariana, Minas Gerais, assessorando um Encontro de Formação Permanente para presbíteros do Regional Leste II da CNBB (Minas Gerais e Espírito Santo). Bem perto, geograficamente e no afeto, das vítimas dos crimes provocados pela Companhia Vale do Rio Doce, para a qual o lucro e os sucessos nas cotações importam incomparavelmente mais que vidas humanas e de tantos outros elementos da Criação, nossa Casa Comum. Compaixão e indignação são sentimentos que perpassam nosso coração de pessoa humana e de Pastor do Povo de Deus. Até que ponto chegamos! A ganância e a avidez pelo lucro enceguecem e desumanizam os responsáveis por esses crimes hediondos e ferem o princípio fundamental do valor incondicional da Vida (princípio ético de qualquer civilização). Vítimas de Mariana ainda esperam, entre dor e cansaço, seus direitos serem respeitados e assegurados.
Temos, ainda, acompanhado com grande apreensão os risco reais de que o veneno que escorre com a enorme quantidade de lama, substâncias e sedimentos diversos em densidade e em grau de contaminação, chegue às águas do Rio São Francisco, nosso Velho Chico. Ele é nosso irmão e o pai das populações por onde suas generosas águas fluem até desaguarem na imensidade do Atlântico (após percorrerem 2.700 km de sua extensão). Estudos realizados comprovam que tal veneno nem sempre terá a visibilidade da lama que destrói e provoca mortes imediatas, comporta grau nocivo e letal. Podemos imaginar, apreensivos, o que pode ocorrer se medidas efetivas e imediatas não forem tomadas no sentido de que esse material contaminante não chegue à bacia hidrográfica do Rio da Integração Nacional.
Convocamos a todos, pois, a exigirmos das autoridades competentes que sejam tomadas medidas cabíveis e urgentes no sentido de garantir a preservação de rios e córregos ainda não envenenados pelo fel dos criminosos movidos pelo afã do dinheiro “fácil”. Existem mais 332 barragens na bacia do Velho Chico. Tais medidas são plausíveis e os recursos para tantos não faltariam quando legal e eticamente exigidos de quem tanto se beneficiou com a vulnerabilidade de populações inteiras e de tantos a elementos da Criação.
Por outro lado, pedimos ao Senhor que a lama que corre e escorre, represas de ganância e cobiça, abra nossos olhos das brumas que ofuscam a sensibilidade moral e a responsabilidade pelo cuidado com a Vida. Que não represemos, com olhos abertos pelo toque recriador daquEle que com uma porção de lama abriu os olhos do cego, nossa compaixão indignada e a capacidade de repensarmos este mundo e nossa convivência.
DOM CARLOS ALBERTO BREIS PEREIRA, OFM (DOM BETO) BISPO DA DIOCESE DE JUAZEIRO – BAHIA