Na manhã de quarta-feira, 08 de janeiro, contemplando um fio de barbante em suas mãos, os participantes do Curso de Verão de 2025 foram convidados a refletir sobre a sabedoria da aranha, que com paciência e resiliência tece as redes que sustentam a vida.
Cada fio, cuidadosamente entrelaçado, forma uma estrutura capaz de suportar desafios, capturar recursos e oferecer abrigo. Quando rompidos, são refeitos com paciência e determinação, ensinando que reconstruir também é parte essencial da vida.
A mística se entrelaçou ao tema que o médico psiquiatra, professor emérito da Faculdade de Medicina da UFC e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Social, Adalberto Barreto, conduziu em sua assessoria: “Bem-Viver e Saúde Mental, Superando as Mazelas do Nosso Tempo”.
Barreto destacou a urgência de nos reconectarmos com três dimensões essenciais: a pessoal, a comunitária e a planetária. Segundo ele, o mundo moderno, dominado por dinâmicas sociais e digitais, frequentemente fragmenta essas relações, criando um cenário de isolamento e desconexão. “Politicamente, ao invés de ampliar as teias que sustentam dignidade e vida, vivemos sob estruturas que brutalmente corrompem e perpetuam violências institucionais, especialmente contra os empobrecidos”, afirmou.
Conexões sociais e o impacto da política
Barreto também abordou como estruturas políticas e sociais agravam as desigualdades e violências, principalmente entre os mais vulneráveis e instigou os participantes a resistirem às forças que desestruturam sonhos e fragilizam a convivência coletiva. A sua explanação teve o formato de uma sessão de terapia comunitária, na qual o tema central a ser conversado é definido democraticamente por todos os presentes.
Em roda, os participantes trocaram experiências e sustentaram uns aos outros, simbolizando a essência da terapia comunitária: transformar dores em aprendizados e construir força coletiva. “Estamos sempre balançando, mas não caímos porque nos apoiamos uns nos outros”, explicou Barreto.
O humor e a música também foram destacados como ferramentas poderosas para estimular o cérebro, superar traumas e fortalecer relações. Barreto lembrou da doutora Zilda Arns e seu papel na disseminação da terapia comunitária no Brasil. Através dela, a abordagem se expandiu por todo o país e hoje é utilizada em contextos como favelas, escolas, prisões e comunidades migrantes, ajudando milhares de pessoas a superarem desafios.
Terapia Comunitária Integrativa (TCI): um modelo de cuidado
Esse método psicossocial, presente em 46 países e reconhecido pelo SUS no Brasil, promove a saúde mental através da partilha de experiências. A TCI prioriza o fortalecimento de redes de solidariedade, valorizando o saber vivencial e os recursos socioculturais de cada comunidade.
Diferente de abordagens tradicionais, a TCI não oferece soluções prontas ou diagnósticos. Em vez disso, promove o diálogo, a escuta ativa e a ressignificação do sofrimento. Barreto explicou que “a escuta do outro ressoa em nossa própria história, despertando empatia e fortalecendo os laços afetivos”. Essa metodologia rompe com padrões verticalizados e “medicalizantes”, criando um modelo relacional que valoriza a reciprocidade e a partilha.
Amor, uma lei universal
Encerrando o encontro, Barreto ressaltou a necessidade de cuidar e ampliar a consciência coletiva. “A lei que regula o universo é a lei do amor. Sem reciprocidade, não há crescimento mútuo. O amor acolhe sem julgar, perdoa sem condenar e valoriza as diferenças que nos tornam únicos”, disse. Ele destacou que amar é um ato que transforma tanto o indivíduo quanto a coletividade, e cria um tecido social mais forte e harmônico.
“Aho Mitakuye Oyasin” – “eu te aceito, te respeito e te reconheço como parte de mim”, que essa saudação xamânica, uma chama de esperança, repetida pelos participantes do Curso de Verão, fortaleça o compromisso de cada um em construir um mundo mais humano e solidário, onde o cuidado de si e do outro seja um ato de amor e resistência.
Texto: Renata Garcia
Fotos: Jonas Tadeu A. Pinto
Equipe de Comunicação CV2025